Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

sábado, 14 de setembro de 2024

André Fernandes: um “self-made man” luso-americano

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”). Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças a capacidades extraordinárias de trabalho, mérito e resiliência, destaca-se o percurso de sucesso do empresário e piloto de corridas, André Fernandes, umas das figuras mais proeminentes da numerosa comunidade luso-americana no estado de Nova Iorque. Natural de Cabeda, distrito de Vila Real, o emigrante transmontano integra a plêiade de empresários luso-americanos que se evidenciam no ramo da construção civil, quer predial, quer de infraestruturas, no árduo e competitivo mercado norte-americano. No caso concreto do emigrante transmontano, André Fernandes encetou há duas décadas um percurso notável de genuíno “self-made man” através da criação e liderança da ASF Construction & Excavation Corp., uma empresa de construção civil que se tem assumido nos últimos anos como líder de betão em Nova Iorque e na Flórida. Dois importantes estados norte-americanos, onde a diáspora lusa está significativamente implantada, e tem desempenhado um importante papel ao nível do progresso e desenvolvimento socioeconómico. Com uma trajetória marcada pelo mérito e pela inovação, e dotado de uma energia incansável, o trabalho e resiliência de André Fernandes transformou a ASF Construction & Excavation Corp, numa empresa de referência nas áreas de escavação, bombagem de betão, fundações para estruturas, pavimentos ou aluguer de guindastes. Nos vários serviços prestados pela empresa luso-americana de construção civil, a visão e missão da mesma assenta em padrões de excelência, rigor e sustentabilidade, premissas que permitem que com o passar do tempo, a ASF Construction & Excavation Corp continue a trilhar os caminhos da inovação e acompanhamento das necessidades do mercado norte-americano. Entre as obras mais emblemáticas onde se encontra o cunho da empresa do emigrante com raízes transmontanas, destaca-se recentemente o maior arranha-céus da cidade de Newark, com mais de 600 apartamentos. Um empreendimento singular que marca indelevelmente a paisagem urbana da cidade mais populosa do estado de New Jersey, e onde se encontra uma das mais representativas comunidades portuguesas nos Estados Unidos. No profícuo rol de projetos de prestígio que têm o cunho da empresa liderada pelo luso-americano André Fernandes, encontram-se, entre muitos outros, o Ridge Hill High Rise Building, o Larkin Plaza High Rise Building,e o Modera Hudson, ambos na cidade de Yonkers, no estado de Nova Iorque. Ou, o NewRo Studios, o 500 Main Street, o Milennia, e o Multi Storied Building, ambos na cidade de New Rochelle, a sudeste do estado de Nova Iorque. Uma das facetas mais conhecidas do empresário luso-americano, é igualmente a sua paixão pelo desporto automóvel. Na qualidade de “gentleman driver”, o também piloto e empresário da ASF Motorsport integrou recentemente o competitivo pelotão da Porsche Carrera Cup North America. Aos comandos de um Porsche 992 GT3 CUP representou as cores nacionais numa das corridas de apoio ao Grande Prémio do Canadá de Fórmula 1, que se disputou em junho deste ano, no lendário Circuito Gilles Villeneuve, em Montreal. A paixão pelas corridas, combinada com o apego às raízes lusas, tem levado a que o emigrante empreendedor e piloto radicado em Nova Iorque, venha com regularidade competir a Portugal, mormente a Portimão, Estoril ou ao torrão natal, em Vila Real. Ainda no ano passado, integrou o pelotão da edição 2023 da Porsche Sprint Challenge Ibérica e esta época apontou foco ao Campeonato de Portugal de Montanha JC Group, marcando presença nas rampas da Arrábida e Porca de Murça, alcançando dois pódios na Categoria GT. Uma das figuras mais proeminentes da numerosa comunidade luso-americana no estado de Nova Iorque, o percurso de sucesso do emigrante, empresário e piloto de corridas, André Fernandes, inspira-nos a máxima de Walter Elliot: “Perseverança não é uma corrida longa, são muitas corridas curtas, uma após a outra”.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Monumentos a Camões na Diáspora: símbolos identitários das comunidades portuguesas

2004 é o ano em que se comemoram os 500 anos do nascimento de Camões, o maior poeta português e símbolo cimeiro da língua portuguesa e da nossa cultura. Nas palavras do tradutor e poeta húngaro Árpád Mohácsi, o autor do poema épico do povo português, Os Lusíadas, é “um poeta de primeira classe, um dos melhores escritores de sonetos da literatura mundial”. Uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental, Camões foi adotado, sobretudo a partir do séc. XIX, como símbolo de portugalidade. O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, celebrado anualmente a 10 de Junho, data da morte do poeta, e assim designado desde a Revolução de Abril, presta, portanto, homenagem a Portugal, aos portugueses, à cultura lusófona e à presença portuguesa no mundo, através da figura de um dos maiores nomes da literatura universal. Não é, pois, de admirar, que um pouco por todo o território nacional tenham sido erigidos, ao longo dos anos, inúmeros monumentos alusivos a Luís de Camões. Um símbolo nacional que em estruturas comemorativas, como esculturas ou bustos, alinda e enobrece, de modo marcante, a paisagem de muitos espaços públicos de cidades portuguesas. Menos conhecidos do público em geral, mas não menos repletos de simbolismo e sentimento pátrio, são também vários os exemplos de monumentos alusivos a Camões erigidos no seio da Diáspora. Perpetuando e dinamizando na esteira de D. Rui Valério, patriarca de Lisboa, “a valorização da portugalidade integrada e interpretada numa mundivisão mais ampla”. Por exemplo, em França, a mais numerosa das comunidades portuguesas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoa, foi inaugurado no dia 19 de outubro de 1987 por Jacques Chirac, então primeiro-ministro e presidente da Câmara Municipal de Paris, na presença de Mário Soares, então presidente da República Portuguesa, um busto do poeta que fica no final das escadas da Avenue de Camões, Paris 16ème, bem perto dos jardins do Trocadero. No entanto, a primeira estátua de Camões na capital francesa foi inaugurada no dia 13 de junho de 1912, nos anos iniciais da Primeira República. Um busto, enorme, encomendado ao escultor italiano Luigi Betti, e instalado num pedestal com cerca de 5 metros de altura, que após vários imprevistos se encontra atualmente no Jardim Camões da Casa de Portugal André de Gouveia, na Cidade Internacional Universitária de Paris, um centro de irradiação da cultura portuguesa na capital francesa. Já no Luxemburgo, onde cerca de 100 mil portugueses representam praticamente 15% da população total do Grão-Ducado, assumindo-se como o mais importante grupo estrangeiro no país desde os anos 80, foi oferecida em 2006 à capital luxemburguesa, pela CCILL – Câmara de Comércio e Indústria Luso-Luxemburguesa, e a Santa Casa da Misericórdia do Luxemburgo, uma estátua de Camões. Resultado da generosidade de três empresários portugueses no Grão-Ducado, mormente António Silva, José Veiga e Manuel Cardoso, o busto de Camões no Luxemburgo foi transferido em 2016, de Bonnevoie para a Praça Joseph Thorn, onde se encontra presentemente, em frente às instalações do Instituto Camões. Na América do Norte, concretamente em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá, desde o alvorecer de junho de 2013, ano em que o espírito empreendedor e benemérito do comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos empresários portugueses em Toronto, impulsionou as obras de revitalização da praça de Camões (Camões Square). Encontra-se, no centro da maior cidade do Canadá, entre outros relevantes símbolos e estruturas de engrandecimento da portugalidade, um imponente busto de Camões, o maior poeta da língua portuguesa. No seio da dispersa geografia da Diáspora, a comunidade portuguesa em Macau, cifrada em milhares de compatriotas, e elo fundamental da cultura e presença secular lusa no Oriente, usufrui desde a centúria oitocentista, e após vicissitudes várias, um dos mais afamados bustos do poeta, na Gruta de Camões. O próprio, terá vivido em Macau durante dois anos, apontado a tradição lendária que terminou nesta gruta, local incontornável de visita na hodierna região autónoma na costa sul da China continental, Os Lusíadas, a obra mais importante da literatura de língua portuguesa. Estes monumentos, e outros que se encontram ou possam vir a ser projetados nas pátrias de acolhimento dos portugueses espalhados pelo mundo, são uma indubitável mais-valia na perpetuação e dinamização da cultura e identidade lusa na Diáspora. De tal modo que é nestes autênticos marcos de portugalidade, que as comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo realizam incontornavelmente as celebrações simbólicas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Revivendo assim anualmente um sentimento inefável, paradigmaticamente expresso por Fernando Pessoa: “O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo”.

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Paris é palco de apresentação de livro sobre memórias da ditadura portuguesa

No dia 21 de setembro (sábado), é apresentado em Paris o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. A obra, concebida pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, é apresentada às 17h30 na Casa de Portugal André de Gouveia, na Cidade Internacional Universitária de Paris.
O fotógrafo Fernando Mariano Cardeira (esq.) acompanhado do historiador Daniel Bastos A apresentação do livro, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira, e prefácio do historiador e investigador José Pacheco Pereira, estará a cargo de Paulo Pisco, Deputado eleito da Assembleia da República pelo círculo eleitoral da Europa. Nesta nova obra, realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nas décadas de 1960-70. Através das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de centena e meia de imagens, são abordados, desde logo, as primeiras manifestações do Maio de 1968 em Paris, acontecimento icónico onde o fotógrafo engajado consolidou a sua consciência cívica e política. E, com particular incidência, o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70. No ano em que se celebra meio século de liberdade em Portugal, a apresentação deste livro em Paris, constitui um reconhecimento dos laços que unem Portugal e França, e do contributo da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas, ao longo dos anos no engrandecimento dos valores da liberdade e da portugalidade. Refira-se que a sessão de apresentação na Casa de Portugal André de Gouveia, na Cidade Internacional Universitária de Paris, um centro de irradiação da cultura portuguesa na capital francesa, incluirá uma prova de vinho verde, promovida pelos Vinhos Norte, um dos maiores produtores nacionais de vinho verde que procura aliar a tradição de fazer vinho com a inovação no sector. Nascido já depois da Revolução de Abril, e com vários livros publicados no domínio da História e da Emigração, cujas sessões de apresentação o têm colocado em contacto estreito com as comunidades portuguesas, o percurso do historiador e escritor Daniel Bastos tem sido alicerçado no seio da Diáspora. Depois de uma trajetória marcada pela deserção, emigração e exílio nas décadas de 1960-70, Fernando Mariano Cardeira regressou a Portugal após o 25 de Abril de 1974. Foi um dos fundadores da Associação de Exilados Políticos Portugueses (AEP61/74), e presidiu à Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória-NAM.

domingo, 1 de setembro de 2024

Comendador Rogério Oliveira: uma vida dedicada à comunidade portuguesa no Luxemburgo

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, solidária e associativa como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso, e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de portugueses da diáspora que têm trilhado um percurso incansável de apoio constante a compatriotas nas pátrias de acolhimento e de origem, destaca-se o percurso inspirador e notável do comendador Rogério Oliveira, uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa no Luxemburgo. Uma comunidade no coração da Europa, onde os portugueses representam praticamente 15% da população total do Luxemburgo, constituindo o mais importante grupo estrangeiro no país desde os anos 80. Principalmente ligados às atividades tradicionais da construção civil, comércio, hotelaria, restauração e serviços, a relevância dos cerca de 100 mil portugueses presentes no Grão-Ducado, encontra-se singularizada no discurso em 2023, do então primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel, no Parlamento Europeu: “A comunidade portuguesa ajudou a construir o meu país. O Luxemburgo não seria o que é hoje sem a comunidade portuguesa”. Natural do concelho de Anadia, em pleno centro da região da Bairrada, Rogério Oliveira emigrou no alvorecer dos anos 70 para o Grão-Ducado, em demanda de melhores condições de vida, após uma infância e adolescência marcada pelo espectro de grandes carências, e o serviço militar cumprido em Lisboa, que lhe permitiu não ser chamado para a Guerra Colonial. Dotado de uma enorme capacidade de trabalho, esforço e resiliência, que se revelaram essenciais para ultrapassar as vicissitudes da vida, o emigrante anadiense alcançou ao longo da sua trajetória profissional postos de chefia no maior grupo de distribuição do Luxemburgo. Desde muito cedo se envolveu também na vida comunitária, sendo um dos fundadores, em 1997, da Associação Cultural e Humanitária da Bairrada no Luxemburgo (ACHBL), uma coletividade que tem sido um farol de benemerência em prol de compatriotas no Luxemburgo e em Anadia. É o caso dos apoios constates aos bombeiros da região da Bairrada, Tondela ou Gouveia, essenciais para a aquisição de ambulâncias ou carros de combate a fogos, e a IPSS que melhoram as condições de vida dos seniores, como por exemplo, o Centro Social de Tourigo. Ainda no passado mês de agosto, a ACHBL, liderada por Rogério Oliveira, entregou com a presença do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, um donativo no valor de cinco mil euros aos Bombeiros de Anadia, assim como, ao Lar de Idosos São Joaninho, em Santa Comba Dão. Os donativos entregues, foram angariados no decurso do mês de julho, no âmbito da festa anual que a ACHBL promoveu no Parque Municipal Gaalgebierg (Esch/Alzette), pátria de acolhimento, onde por exemplo, o Centro Ulisses da Cáritas do Luxemburgo, tem sido apoiado pela Associação Cultural e Humanitária da Bairrada no Luxemburgo. Com uma vida há mais de meio século devotada à comunidade lusa do Grão-Ducado, Rogério Oliveira que foi durante vários anos conselheiro das Comunidades Portuguesas, eleito no Luxemburgo, é detentor da Medalha de Mérito da comuna luxemburguesa de Strassen. E desde 2012, da Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas, Grau Ouro, atribuída pelo Governo da República Portuguesa, ano em que a ACHBL também recebeu a medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas, por ocasião do 15. ° aniversário da associação. O percurso de vida associativo e benemérito de Rogério Oliveira, singularmente plasmado à frente dos destinos da ACHB, coletividade detentora de um dos galardões dos prémios ING Solidarity Awards, que distinguem instituições que trabalham no campo da solidariedade no Grão-Ducado, concorreu ainda para que o emigrante anadiense tenha sido durante vários anos membro do Conselho Nacional dos Estrangeiros no Luxemburgo. Assim como, para que Rogério Oliveira tenha sido distinguido com o “Prémio Personalidade”, da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL) em 2014, e a Comenda de Ordem de Mérito Civil, atribuída pela Presidência da República, em 2015, e que se destina a galardoar atos ou serviços meritórios praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, que revelem abnegação em favor da coletividade. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa no Luxemburgo o exemplo de vida abnegado e benemérito do comendador Rogério Oliveira, inspira-nos a máxima do filósofo romano Cícero: “Não há nada que não se consiga com a força de vontade, a bondade e, principalmente, com o amor”.