Morgado de Fafe
O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.
segunda-feira, 30 de setembro de 2024
A emigração portuguesa na obra do mestre-pintor Orlando Pompeu
Um dos mais consagrados artistas plásticos portugueses da atualidade, Orlando
Pompeu nasceu a 24 de maio de 1956, na freguesia de Cepães, no concelho minhoto
de Fafe. Estudou desenho, pintura e escultura em Barcelona, Porto e Paris, e nos
anos 90 progrediu no seu percurso artístico ao ir trabalhar para os Estados
Unidos da América, onde expôs na Galeria Eight Four, em Nova Iorque, e depois,
Japão, tendo exposto na TIAS – Tokio International Art Show e na Galeria Garou
Monogatari em Tóquio. Detentor de uma carreira de quase quarenta anos, bem como
um currículo nacional e internacional ímpar, a sua obra consta de variadas
coleções particulares e oficiais em Portugal, Espanha, França, Suíça,
Inglaterra, Alemanha, Croácia, Austrália, Brasil, México, Dubai, Canadá, Itália,
EUA e Japão. Dentro do estilo pictórico singular, heterogéneo, criativo e
contemporâneo que perpassam as diversas fases e dimensões temáticas da obra do
artista plástico, encontram-se várias representações alusivas à emigração
portuguesa. Em 1989, o artista concebeu uma obra hiper-realista, acrílico sobre
tela 130 x100, atualmente na posse de um colecionador particular, intitulada
“Portugueses, Emigrantes e Heróis”, que constitui uma grandiosa alegoria da
emigração lusa para França nas décadas de 1960-70. Nesse quadro de grandes
dimensões, Orlando Pompeu, pinta numa estação de comboios, uma família carregada
de malas e de sonhos na demanda de melhores condições de vida, impulso maior que
levou mais de um milhão de portugueses a emigrar “a salto” para o território
gaulês nesse período.
Orlando Pompeu, “Portugueses, Emigrantes e Heróis” 130 x 100 - acrílico s/ tela.
Col. Particular Uma emigração, nas palavras de Eduardo Lourenço, «de sangue,
suor e lágrimas, mas que, ao fim e ao cabo, foi uma emigração com sentido e que
deu sentido a tantas gerações, a tantas vidas e a tantos portugueses». Que até
aos dias de hoje, representam uma das principais comunidades estrangeiras
presentes no território gaulês, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa,
rondando um milhão de pessoas, e desempenham um papel fundamental no
desenvolvimento da França. Já em 2018, no âmbito do programa das comemorações do
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas no Canadá, nação que
alberga uma das mais dinâmicas comunidades lusas na América do Norte, a Peach
Gallery, uma das mais vibrantes galerias de arte em Toronto, deu a conhecer à
numerosa comunidade luso-canadiana uma exposição composta por 40 aguarelas sobre
papel do reputado pintor. Uma exposição cujas aguarelas foram pintadas com
várias representações de símbolos identitários da cultura portuguesa, como a
bandeira nacional e a guitarra, que muito contribuem para a construção e reforço
da portugalidade. Assim como, com diversos elementos canadianos, como por
exemplo, a CN Tower, um símbolo de Toronto, capital da província do Ontário e
maior cidade do Canadá, onde vive a maioria dos mais de 500 mil portugueses e
lusodescendentes presentes neste território da América do Norte. Em agosto de
2022, no âmbito da Festa do Emigrante promovida pelo Município de Fafe, uma
iniciativa que congregou um conjunto diversificado de acontecimentos de cariz
cultural, social e identitário que pretendeu homenagear os emigrantes locais, o
artista plástico inaugurou uma exposição composta pelos desenhos concebidos
propositadamente para a ilustração do livro “Crónicas – Comunidades, Emigração e
Lusofonia”. Os desenhos, que arrebataram no Salão Nobre do Teatro Cinema de
Fafe, antigos e atuais emigrantes no Brasil, Canadá, França, Inglaterra e Suíça,
na esteira da missão primordial do livro assinado pelo escritor e historiador da
Diáspora, Daniel Bastos, dignificam, reconhecem e valorizam as sucessivas
gerações de compatriotas que saíram de Portugal. Refira-se ainda, que desde
2023, o Museu Histórico de São José, com uma forte componente dedicada à
emigração portuguesa para a Califórnia, terceiro maior estado dos Estados
Unidos, onde vive e trabalha a maior comunidade luso-americana do país,
constituída por mais de 300 mil pessoas, possui no seu acervo uma aguarela do
artista plástico alusiva aos fortes laços que unem as duas nações é a presença
da diáspora. Na esteira de grandes mestres da pintura portuguesa, que também
verteram nos seus trabalhos representações da emigração portuguesa, como por
exemplo, Domingos Rebelo, com o quadro “Os Emigrantes” (1929), ou Almada
Negreiros, com o tríptico “A partida dos emigrantes” (1947-49). Orlando Pompeu
sublima assim a máxima de Orhan Pamuk, escritor e professor turco vencedor do
prémio Nobel de Literatura de 2006: “A pintura ensinou a literatura a
descrever”. Neste caso traçando com a mestria dos pincéis e tintas uma constante
estrutural da história portuguesa.
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