A
11.ª edição do Lisbon & Sintra film Festival, um Festival Internacional de
Cinema que se realizou entre 17 e 26 de novembro, e que se afirma como um dos
maiores eventos culturais em Portugal, incluiu este ano na sua programação uma
retrospetiva do realizador José Vieira, aclamado cineasta da emigração
portuguesa.
Natural de Oliveira de
Frades, uma vila da Beira Alta situada no distrito de Viseu, José Vieira partiu
para França em 1965, com sete anos de idade. A sua experiência pessoal como
emigrante e as muitas histórias compartilhadas com outros emigrantes em terras
gaulesas, inspiraram assertivamente o percurso profissional do realizador que
vive e trabalha entre Portugal e França.
Licenciado
em Sociologia, José Vieira fez do documentário “uma forma de militância”,
porquanto se apercebeu de que a maioria das pessoas “não conheciam a história
da emigração portuguesa”, como afirmou no ano passado em entrevista à agência
Lusa.
Desde
a década de 1980, o cineasta lusodescendente realizou uma trintena de
documentários,
nomeadamente para a France 2, France 3, La Cinquième e Arte, onde tem abordado
sobretudo a problemática da emigração portuguesa para França. Em particular a
viagem “a salto”, ou
seja, o trajeto clandestino para deixar Portugal rumo a França nos anos 60 e 70, e as condições de vida miseráveis de muitos
compatriotas que nessa época habitaram nos "bidonvilles
(bairros de lata) em Paris.
Na
retrospetiva que lhe foi dedicada no LEFFEST2017, festival que procura reunir o
que de melhor se faz no mundo da 7ª arte, estiveram em destaque oito películas suas
realizadas entre 2002 e 2016. Como por exemplo, “A fotografia rasgada” (2002),
onde José Vieira retrata o código da fotografia rasgada do “passador”, que
guardava metade da fotografia de quem emigrava e a outra levava-a o emigrante
que, uma vez chegado ao destino, a remetia à família, em sinal de que chegara
bem e que poderia ser concluído o pagamento pela sua “passagem”.
Os documentários “O país aonde nunca se regressa”
(2005), “Le
bateau en carton” (2010) e “A ilha dos ausentes” (2016), que de certo modo descrevem a sua
própria experiência de emigrante, estiveram igualmente em foco no festival, e
são parte integrante do valioso trabalho cinematográfico de José Vieira sobre
os protagonistas anónimos da história portuguesa que lutaram além-fronteiras
por uma vida melhor.
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