O
fenómeno da emigração de profissionais de saúde (médicos, enfermeiros,
dentistas, fisioterapeutas e farmacêuticos), alvo de aceso debate na sociedade
portuguesa ao longo da última década, é revelador de um país que continua
enleado nas suas próprias contradições.
Um
país que investe parte significativa dos seus recursos na formação das gerações
“mais bem preparadas de sempre”, que por falta de emprego, ou atraídas por
melhores condições financeiras e a garantia de progressão na carreira, têm
na emigração uma via para a construção dos seus projetos de vida. Um país, dos
mais envelhecidos da União Europeia, que precisa de contratar profissionais de
saúde, como médicos e enfermeiros, mas cuja escassez de recursos financeiros
entrava a abertura de vagas, a fixação de população jovem e o incremento da
natalidade.
Os
dados recentemente divulgados pelo estudo “Números da Ordem”, promovido pela
Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), são um espelho destas contradições. Segundo
o mesmo, Portugal atingiu no ano passado um rácio de um médico dentista por
1.033 habitantes, praticamente o dobro do que é recomendado a nível
internacional.
A
desadequação do curso de medicina dentária ao mercado de trabalho, porquanto em
Portugal existem sete faculdades de Medicina Dentária que todos os anos colocam
no mercado de trabalho entre 500 a 600 profissionais, concorre amplamente para
que estes profissionais de saúde não encontrem colocação no território nacional
e tenham na emigração um caminho de realização socioprofissional.
Como
acentua o bastonário dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva, ao longo
dos últimos anos tem-se assistido a um contínuo aumento da emigração no seio
desta classe profissional. Neste momento, existem cerca de dois milhares de
médicos dentistas portugueses a exercerem no estrageiro, sobretudo no Reino
Unido, França, Suíça e vários países da Escandinávia, países europeus cujas
condições salariais e valorização da carreira, estão a atrair estes
profissionais de saúde.
No
entanto, como alerta a OMD, os Médicos dentistas chegam
apenas a metade dos agrupamentos de centros de saúde em Portugal, sendo ainda
necessário um esforço para alargar os cuidados de saúde oral à população,
particularmente a que não possui recursos financeiros para contratar um
seguro de saúde ou ir a uma clínica privada.
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