No
decorrer das últimas décadas tem sido impactante a tendência da emigração de
jovens qualificados portugueses que perante a precariedade laboral, baixos
salários e obstáculos à progressão de carreira, têm
optado pela construção no estrangeiro dos seus projetos de vida.
Neste
campo, tem-se destacado o fenómeno da emigração de
profissionais de saúde, em particular os enfermeiros, tanto
que desde 2010, números oficiais apontam para que mais de 14 mil destes profissionais
de nível superior com competências técnicas, científicas e humanas tenham
optado por sair de Portugal.
A
grave crise económica e financeira que o país viveu a partir de 2011, e que
obrigou à intervenção
da troika em Portugal, atingiu duramente
este grupo socioprofissional, assistindo-se nesse período à saída de 1.175
profissionais, valor que só seria ultrapassado em 2015, com a saída de 2.715
enfermeiros para o estrangeiro.
A
trajetória de recuperação da economia portuguesa, e o incremento
da contratação
de profissionais de saúde no Serviço
Nacional de Saúde (SNS), ainda que
aquém das
necessidades do SNS, parecia estar nos últimos anos a contribuir para o
decréscimo da emigração de enfermeiros portugueses.
No entanto, dados apresentados no
início deste mês pela Ordem dos Enfermeiros, instituição
que emite as declarações de habilitação que estes profissionais precisam para
exercer lá fora, há cada vez mais enfermeiros portugueses
a procurar melhores condições de trabalho e de progressão na carreira em países
como os Estados Unidos, Arábia Saudita, Inglaterra, Irlanda, França, Bélgica,
Suíça ou Alemanha. Segundo a mesma, em 2018 a instituição recebeu um total de 2.736
pedidos de profissionais para exercer no estrangeiro, e o ano de 2019 pode
mesmo ver este número ser superado, dado que nos primeiros seis meses do ano, a
Ordem já recebeu 2.321 pedidos para obter a declaração de habilitação que permite
trabalhar noutro país.
Numa
época em que Portugal assiste a iniciativas que procuram apoiar o regresso de
emigrantes ou lusodescendentes ao país, estas só terão verdadeiro impacto no
nosso futuro coletivo, quando os responsáveis políticos e os agentes económicos
concertarem uma agenda e estratégia que desde logo, não permita a constante emigração
de jovens qualificados, como é o caso dos profissionais de enfermagem.
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