No
âmbito da recente estreia em Portugal do filme "1917", oitava longa-metragem do
afamado realizador britânico Sam Mendes que evoca a I Guerra
Mundial, tem sido muito badalado o facto da pelicula cinematográfica
ser inspirada nas vivências do seu avô português Alfred Mendes. Um
antigo soldado
que se tornou um dos escritores de referência da literatura caribenha, e que
era filho de um emigrante português que partiu da Madeira para a antiga colónia inglesa de Trindade e Tobago,
na confluência do mar das Caraíbas com o oceano
Atlântico.
Esta
origem madeirense de “1917”, um dos grandes favoritos aos Óscares deste ano, tem por estes dias impelido a redescoberta do fluxo
emigratório oitocentista madeirense para Trindade e
Tobago. Uma onda emigratória profusamente estudada por Vítor
Paulo Freitas Teixeira, especialista em Estudos Interculturais (Variante
de Estudos Luso-Brasileiros), e autor da tese Entre a Madeira e as Antilhas: a emigração
para a Ilha de Trindade: século XIX.
Como
aponta o investigador natural da Camacha, a onda emigratória madeirense para a
nação caribenha composta por duas ilhas, perto da Venezuela, remonta à centúria
oitocentista. Uma época em que as crises agrícolas, o excesso demográfico e o recrutamento
militar obrigatório que atingiram a pérola do Atlântico, compeliram mais de
dois milhares de madeirenses a emigrar para as Antilhas Britânicas, em
particular para Trindade e Tobago, nas
plantações de cana-de-açúcar.
No
início do século XX vários destes madeirenses ou seus descendentes, tornar-se-iam
donos de pequenos comércios. Reminiscências que ainda hoje perduram em anúncios
em Porto de Espanha, capital de Trindade e
Tobago: Camacho Bros., Ferreira Optical,
padarias Coelho's, ou o famoso Rum Fernandes, uma bebida secular, entretanto
vendida à multinacional Baccardi.
A presença madeirense em Trindade e Tobago esteve ainda no alvorecer do
séc. XX na base da criação da Associação
Portuguesa Primeiro de Dezembro, um Clube Português cujo
“objectivo de unir a comunidade madeirense,
e aumentar o seu prestígio na colónia inglesa”, constitui segundo Vítor Paulo
Freitas Teixeira, um “elo com o Passado, e um tributo aos antepassados que fizeram um século XIX de presença
madeirense na Ilha de Trindade, e um reforço aos descendentes
que continuaram a caminhada no século XX”.
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