Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Memórias da ditadura revisitadas na comunidade portuguesa em Bruxelas

No passado sábado (5 de abril), foi apresentado na capital da Europa o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. A obra, concebida pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, foi apresentada na livraria La Petite Portugaise, em Bruxelas.
O historiador Daniel Bastos, acompanhado de Maria José Gama, Presidente da Associação José Afonso, Núcleo de Bruxelas, no decurso da apresentação do livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”, na livraria La Petite Portugaise em Bruxelas A sessão de apresentação, que encheu a livraria La Petite Portugaise, um ponto de encontro incontornável na promoção da língua e cultura portuguesas na capital da Europa, de emigrantes, ativistas culturais e dirigentes associativos, esteve a cargo de Maria José Gama, Presidente da Associação José Afonso, Núcleo de Bruxelas, que destacou o livro como um importante contributo para o conhecimento da nossa história recente, em particular, para o reforço da memória sobre a conquista da liberdade e democracia em Portugal. Nesta obra, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira e prefácio do investigador José Pacheco Pereira, realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura portuguesa nos anos 60 e 70. Através das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de centena e meia de imagens, são abordados, desde logo, as primeiras manifestações do Maio de 1968 em Paris, acontecimento icónico onde o fotógrafo engajado consolidou a sua consciência cívica e política. E, com particular incidência, o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70. Refira-se que esta obra, agora apresentada em Bruxelas, encontra-se no final da sua primeira edição, tendo sido já lançada noutras latitudes das comunidades portuguesas, designadamente em Espanha (Vigo), Canadá (Toronto) e em França (Paris). Assim como em várias cidades no território nacional (Lisboa, Porto, Braga, Felgueiras, Fafe, Óbidos e Torres Novas).

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Fundação Nova Era Jean Pina concretiza sonhos de seniores portugueses em Paris

Ao longo dos anos, a diáspora lusa tem demonstrado um enorme espírito de solidariedade, o mais importante valor que nos humanizam e dão sentido à vida, apoiando quer os nossos compatriotas no estrangeiro, assim como os portugueses residentes no território nacional. Um desses exemplos de solidariedade dinamizada no seio da diáspora, é o que tem sido prosseguido, no decurso da última década, pela Fundação Nova Era Jean Pina, constituída em 2019 pelo empresário português João Pina, radicado na região de Paris, um dos mais dinâmicos e beneméritos empresários portugueses em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa. Natural de Trinta, uma pequena povoação do concelho da Guarda, João Pina emigrou para França nos anos 80, com 19 anos de idade, na esteira de milhares de portugueses que procuravam na pátria gaulesa uma vida melhor. A chegada a Paris, ainda que marcada inicialmente por um conjunto de contratempos e dificuldades, alavancou um percurso de empresário de sucesso na área da construção civil. Presentemente administrador do Grupo Pina Jean, sediado nos arredores de Paris, um conjunto de várias empresas com atividades em áreas como a construção civil, limpeza e reciclagem de resíduos, o sucesso de João Pina, conhecido em terras gaulesas por Jean Pina, no mundo dos negócios, tem sido acompanhado de uma incessante dinâmica solidária em prol dos mais desvalidos. Alicerçando a missão primacial da Fundação Nova Era Jean Pina, no lema da instituição “Solidariedade em Movimento”, o emigrante guardense tem dinamizado uma notável cooperação entre França e Portugal através da promoção, apoio e desenvolvimento de projetos de solidariedade para com as pessoas mais desfavorecidas e vulneráveis, como seniores, crianças institucionalizadas e desempregados. Foi neste entrecho, que a Fundação Nova Era Jean Pina dinamizou recentemente o projeto “Sonhos sem Idade”, que levou entre 28 de março e 1 de abril, quatro seniores residentes no lar de Reigada, no distrito da Guarda, na região centro-norte de Portugal, a viajar de avião pela primeira vez à capital francesa. No âmbito da viagem até à “Cidade Luz”, proporcionada pela Fundação Nova Era Jean Pina, os seniores Augusto Rodrigues Cabral, de 92 anos, Maria Julieta da Costa, de 86 anos, Maria Helena Brígida, de 80 anos, e Manuel Dias, de 73 anos. Acompanhados por uma enfermeira e uma assistente técnica, tiveram oportunidade de visitar a Torre Eiffel, o Consulado-Geral de Portugal em Paris, o Palácio de Versalhes, a Basílica de Sacré Cœur e desfrutaram de um cruzeiro no Sena. Ao longo da jornada sociocultural, foram-se juntando ao grupo, empresários, dirigentes associativos, órgãos de informação da diáspora e outras forças vivas da comunidade luso-francesa. Como o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, e a Cônsul-Geral de Portugal em Paris, Mónica Lisboa, que fizeram questão dentro das suas agendas de trabalho, de receber e conviver com os seniores portugueses, sempre acompanhados do Presidente da Fundação Nova Era Jean Pina. Uma experiência seguramente marcante e inolvidável para os quatro seniores residentes no lar de Reigada, no distrito da Guarda, proporcionada por uma instituição social de referência da diáspora. Que ao evidenciar a importância do envelhecimento ativo e saudável, um conceito cada vez mais relevante numa sociedade onde a população está a envelhecer rapidamente, robustece concomitantemente a importância, nas suas múltiplas dimensões e potencialidades, das comunidades portuguesas.

domingo, 30 de março de 2025

Isidro Flores: um emigrante empreendedor de referência na comunidade portuguesa em Vancouver

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora e benemérita como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso, e desempenham funções de relevo a nível cultural, económico, político e social. Nos vários exemplos de empreendedores portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e singular de Isidro Flores, um dos mais destacados empreendedores da comunidade portuguesa em Vancouver, situada na Colúmbia Britânica, a terceira maior província do Canadá, onde vivem cerca de 40 mil portugueses e lusodescendentes. Natural da Vila de São Sebastião, situada no concelho açoriano de Angra do Heroísmo, no sueste da ilha Terceira, Isidro Flores emigrou para o Canadá no ocaso dos anos 70, na esteira de milhares de compatriotas, que se estabeleceram no segundo maior país do mundo em extensão territorial, em demanda de melhores condições de vida. A chegada ao território canadiano com 24 anos, marcou o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, o esforço e a abnegação, valores coligidos no seio familiar, forjaram uma têmpera de trabalho assente no mercado laboral da construção civil. A experiência profissional impactante, impeliu o emigrante terceirense a criar a Concord Concrete Pumps, uma empresa que se destaca no continente americano pela produção de camiões equipados com bombas de betão. Sediada em Port Coquitlam, a 30 quilómetros de Vancouver, a Concord Concrete Pumps, cujas bombas de betão são construídas e produzidas numa fábrica que possui na Coreia do Sul, e que se encontra ainda presente na Austrália, atuando assim em mercados que vão desde a América do Norte, México, Brasil, Jordânia ou Oceânia, introduziu em 2006 a maior bomba de lança de betão montada em camião do mundo, tendo sido inclusive distinguida com o prémio Construction Equipment Top 100. Avaliada em dezenas de milhões de dólares, a Concord Concrete Pumps, que reflete o carisma, a visão empresarial e o espírito fundador de Isidro Flores, tem desde a sua génese implementado uma cultura de melhoria contínua na gestão de todos os processos e atividades da empresa, por meio dos mais elevados padrões de qualidade e inovação. O esforço hercúleo e a dedicação incansável de Isidro Flores, robusteceram um empresário de sucesso que nunca descurou a responsabilidade social. Radicado há mais de quarenta anos no Canadá, o sucesso que o emigrante açoriano alcançou no mundo dos negócios, tem sido acompanhado de uma relevante dimensão benemérita. É o caso, por exemplo, do auxílio solidário que presta a várias crianças carenciadas de países como o Brasil, Índia, Camboja e Indonésia, apoiando-as com subsídios ao longo dos anos. Uma dinâmica solidária que não olvida o torrão natal, ainda no ano passado, o emigrante empreendedor concedeu um generoso apoio à Junta de Freguesia da Vila de São Sebastião, que permitiu a recuperação do portão principal do Cemitério do Bom Fim. Uma ação solidária que além de ajudar a terra-mãe, constituiu uma homenagem ao seu avô, Francisco Isidoro Flores, cujo nome consta num dos painéis de azulejos, exteriores ao cemitério, como tendo sido um dos operários locais que trabalharam na obra do Cemitério do Bom Fim. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa em Vancouver, na costa oeste do Canadá, o percurso singular do empresário filantropo Isidro Flores recorda-nos a máxima de Eça de Queiróz, um dos mais importantes escritores portugueses de todos os tempos: “Na vida o êxito pertence àqueles que têm energia, disciplina, sangue-frio e bondade”.

sexta-feira, 28 de março de 2025

Livraria UNICEPE, no Porto, promove conferência e reapresentação do livro “Gérald Bloncourt - Dias de Liberdade em Portugal”

No dia 11 de abril (sexta-feira), no âmbito dos eventos das comemorações dos 50 anos da democracia, que continuam este ano tendo como destaque os temas da participação e da democratização, terá lugar na cidade do Porto a conferência "Gérald Bloncourt – Dias de Liberdade em Portugal". A conferência, promovida pela livraria Unicepe, um espaço cultural de referência na cidade invicta, realiza-se às 18h00, e será proferida pelo historiador da diáspora Daniel Bastos, autor de obras de referência sobre o trabalho fotográfico de Bloncourt ligados à emigração e à génese da democracia portuguesa.
Centrada na abordagem do singular trabalho fotográfico de Gérald Bloncourt, que foi um espectador da explosão de liberdade que tomou conta do país após a Revolução de 25 de Abril de 1974, a iniciativa, aberta à comunidade, e que constitui uma homenagem a uma personalidade ímpar que durante mais de duas décadas escreveu com luz a vida dos portugueses, inclui ainda a reapresentação do livro “Gérald Bloncourt - Dias de Liberdade em Portugal”. Uma obra bilingue (português e inglês), concebida e realizada por Daniel Bastos em 2019, que contou com prefácio de Vasco Lourenço, um dos mais conhecidos "capitães de Abril", e tradução de Paulo Teixeira, onde é retratada através do espólio de Gérald Bloncourt, factos históricos que medeiam a Revolução dos Cravos e a celebração do Dia do Trabalhador. Designadamente, a chegada do histórico líder comunista Álvaro Cunhal ao Aeroporto de Lisboa, a emoção do reencontro de presos políticos e exilados com as suas famílias, o caráter pacífico e libertador da Revolução de Abril, e as celebrações efusivas do 1.º de Maio de 1974, a maior manifestação popular da história portuguesa. Segundo Vasco Lourenço, este livro realizado com o apoio da Associação 25 de Abril, uma das instituições de referência do Portugal democrático, e ilustrado pela lente humanista de Bloncourt, constitui uma viagem ao “tempo dos sonhos cheios de esperança, da afirmação da cidadania, da construção de uma sociedade mais livre e mais justa, do fim e do regresso de uma guerra sem sentido com a ajuda ao nascimento de novos países independentes, onde a língua portuguesa continuou a ser o principal factor congregador”.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Fundação Nova Era Jean Pina reuniu com o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas

A Fundação Nova Era Jean Pina, constituída em 2019, por um dos mais dinâmicos e beneméritos empresários portugueses em França, João Pina, administrador do Grupo Pina Jean, instituição que assume como principal missão a promoção de uma cultura e rede de solidariedade na Diáspora, reuniu na passada terça-feira (25 de março) com o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário.
A reunião, que decorreu na Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, no Palácio das Necessidades, em Lisboa, teve como objetivo explanar junto do governante os projetos solidários que a Fundação Nova Era Jean Pina tem dinamizado ao longo dos últimos anos em prol das pessoas mais desfavorecidas ou vulneráveis, como idosos, crianças e desempregados. Assim como, as atividades que a instituição está a realizar atualmente, como seja, o projeto “Sonhos sem Idade” que vai levar, no final deste mês, idosos portugueses a viajar de avião pela primeira vez à capital francesa, e no final do ano, ao Luxemburgo. No decurso da reunião, o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, demostrou profundo apreço e reconhecimento pelas atividades empreendidas pela Fundação Nova Era Jean Pina junto da comunidade luso-francesa e no território nacional. Incentivado o empresário benemérito, a prosseguir a dinâmica solidária que a instituição presta a cerca de 15 mil pessoas ao ano, através do envio de 280 a 380 paletes, 350 mil quilos por ano, tal como, a organização de ceias de Natal, e a entrega de milhar e meio de cabazes nessa quadra festiva.

sábado, 22 de março de 2025

Paulo Pereira: a importância do investimento da diáspora em Portugal

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários lusos da diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Paulo Pereira. Natural de Felgueiras, concelho situado a norte da região do Vale do Sousa, partiu em tenra idade, no ocaso dos anos 60, com a família para França, que na esteira de milhares de compatriotas demandaram na pátria gaulesa melhores condições de vida. O trabalho, esforço e resiliência, valores coligidos no seio familiar, transformaram o empreendedor luso-francês com formação em Direito e cujo percurso socioprofissional inicial computou experiências laborais em seguros, e no ramo agroalimentar, num dos mais proeminentes empresários da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa. Para tal, muito contribuiu o facto, de há mais duas décadas ter fundado, em Orleães, a Agribéria, umas das maiores empresas de distribuição alimentar em França. E ser ainda, proprietário da cadeia de supermercados Panier du Monde, que se encontra presente em várias cidades gaulesas. Contexto empreendedor, que acentuou a aposta de Paulo Pereira no chamado “mercado da saudade”, alargando as ofertas dos produtos lusos ao mercado francês, desde logo, ao nível da distribuição de vinhos portugueses. A paixão pelo vinho português, o mérito e a visão estratégica, impulsionaram Paulo Pereira, em conjunto com a sócia Maria do Céu Gonçalves, que também em tenra idade rumou com os pais, naturais de Vila Real, em direção ao território francês, a adquirir em 2012, a histórica Quinta da Pacheca, no Douro. O investimento inicial de quase três milhões de euros dos empreendedores da diáspora na Quinta da Pacheca, ao impulsionar a modernização do negócio vinícola e a alicerçar um complexo enoturístico de referência no Douro. Realça, paradigmaticamente, a importância da diáspora no desenvolvimento e projeção de Portugal no mundo. Desde então, os investimentos de Paulo Pereira e do casal Maria do Céu Gonçalves e Álvaro Lopes no setor do vinho em Portugal não se ficaram apenas pelo Douro. Expandiu-se para outras regiões vitivinícolas, criando uma rede de propriedades, que aliando a produção de vinhos de qualidade à hospitalidade de excelência, formaram no final de 2020, o Grupo Terras & Terroir, na sequência da compra do projeto Caminhos Cruzados, em Nelas. Rebatizado no alvorecer deste ano Pacheca Group, numa mudança estratégica que visa fortalecer a associação do grupo à sua marca mais icónica, o projeto dos emigrantes portugueses, engloba já, além da Quinta da Pacheca, no Douro, e a Caminhos Cruzados, no Dão. Conjuntamente, com a Quinta do Ortigão, na Bairrada, produtora de espumantes de excelência; a Quinta Valle de Passos, em Trás-os-Montes, com o Olive Nature Hotel & Spa; a Quinta de São José do Barrilário, no Douro, com vinhos e um hotel de cinco estrelas; as Vila Marim Country Houses e o Hotel da Folgosa, no Douro; a Ribafreixo Wines e a Herdade da Rocha, no Alentejo; e o POT, no Porto. Os investimentos de Paulo Pereira, em Portugal, preparam-se a breve trecho para alargarem-se, inclusivamente, ao setor da aviação. Através do consórcio Newtour/MS Aviation, que propôs a entrada de Carlos Tavares, antigo CEO da gigante de automóveis Stellantis, que chegou a França ainda adolescente para estudar, e do empresário ligado à Quinta da Pacheca, para robustecer a proposta de privatização da Azores Airlines. Uma companhia subsidiária do Grupo SATA, licenciada para operar voos no exterior dos Açores ligando o arquipélago à Europa e América do Norte. Um dos mais relevantes investidores da diáspora em Portugal, a trajetória de vida de Paulo Pereira, que tem contribuído decisivamente para a afirmação internacional do país, para o desenvolvimento do tecido económico nacional, assim como para a promoção e valorização dos territórios, escora a asserção de Fernando Pessoa: “O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo”.

domingo, 16 de março de 2025

John Guedes: um emigrante de sucesso nos Estados Unidos da América

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de John Guedes, reputado empreendedor e benemérito da comunidade luso-americana. Natural de Vilas Boas, uma freguesia do concelho de Chaves, João Guedes emigrou para a América no alvorecer da década de 1960, com 10 anos de idade. Numa época em que o fardo da pobreza, da interioridade e a estreiteza de horizontes na região trasmontana durante o Estado Novo compeliu uma forte vaga migratória para o centro da Europa e para a América. Detentor de um percurso educacional que computou nos anos 70 a formação académica em arquitetura no Norwalk State College, na cidade de Norwalk, no Connecticut, o terceiro menor estado norte-americano em extensão territorial, onde a presença portuguesa é muito relevante, o emigrante trasmontano, conhecido nos Estados Unidos como John Guedes, fundou no ocaso dessa década a Primrose Companies. Uma empresa de arquitetura e construção, sediada em Bridgeport, a cidade mais populosa do Connecticut, com cerca de meia centena de trabalhadores e especializada em projetos de construção de escritórios comerciais, multiresidenciais e médicos no Connecticut e em Nova Iorque. Com mais de mais de 40 anos de experiência e sucesso no setor da construção e design, entre os muitos projetos que contam como o cunho do arquiteto luso-americano, encontram-se, por exemplo, “The Birmingham Apartments”, em Shelton; o “Federal Arms Apartments”, em Bridgeport; a “Twin Brooks Village Homes”, em Trumbull; a “Post Road Professional Center”, em Westport; ou o “Easton Community Center”, em Easton. Presentemente, John Guedes é o responsável pelo projeto que prevê a construção de um edifício residencial de cinco andares, com 100 apartamentos, no espaço da antiga Escola St. Emery de Fairfield, um dos oito condados que formam o estado americano do Connecticut. O empreendimento, designado de “Kings Highway Commons”, e estimado em dezenas de milhões de dólares, assevera mais um marco no percurso pessoal e na obra do arquiteto luso-americano, que se tem destacado por uma notável capacidade de trabalho e infindável talento criativo. O sucesso que o emigrante flaviense tem alcançado ao longo dos últimos anos, tem sido acompanhado igualmente de um apoio constante à região trasmontana, torrão a quem devota um extraordinário sentimento benemérito. Na sua aldeia natal, onde regressa amiúde, entre outros exemplos filantropos, pagou o terreno onde está o campo de futebol, financiou a abertura de um caminho e a construção de um parque de lazer, patrocinou jornadas culturais e doou cem mil euros para a construção da sede da associação cultural local. O espírito generoso de John Guedes estende-se também, por exemplo, , ao Patronato de São José, em Vilar de Nantes, uma instituição flaviense de solidariedade que acolhe crianças do sexo feminino. E à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vidago, a quem já apoiou com a compra de um monitor de sinais vitais para equipar uma ambulância, assim como de uma ambulância de emergência e de uma ambulância de transporte múltiplo (ABTM). Contexto que levou a corporação, que desenvolve a sua atividade em várias freguesias, a sul do concelho de Chaves, distrito de Vila Real, a atribuir ao arquiteto luso-americano na primeira década do séc. XXI a medalha de prata da Associação Humanitária. E inclusive, a descerrar em 2022, um busto em sua homenagem no quartel dos “Soldados da Paz”. Ilustre filho da terra transmontana, o exemplo de vida do arquiteto luso-americano John Guedes, inspira-nos a máxima do ensaísta Khalil Gibran: “A generosidade não está em dar aquilo que tenho a mais, mas em dar aquilo de que vós precisais mais do que eu”.

sábado, 15 de março de 2025

Daniel Bastos apresenta “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência” em Bruxelas

No dia 5 de abril (sábado), é apresentado em Bruxelas o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. A obra, concebida pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, é apresentada às 15h00 na livraria La Petite Portugaise, um ponto de encontro incontornável na promoção da língua e cultura portuguesas em Bruxelas.
A apresentação do livro, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira, e prefácio do historiador José Pacheco Pereira, fundador do Ephemera, maior arquivo privado em Portugal, estará a cargo de Maria José Gama, Presidente da Associação José Afonso, Núcleo de Bruxelas. Nesta obra, realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, que continuam este ano tendo como destaque os temas da participação e da democratização, Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nas décadas de 1960-70. Através das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de centena e meia de imagens, são abordados, desde logo, as primeiras manifestações do Maio de 1968 em Paris, acontecimento icónico onde o fotógrafo engajado consolidou a sua consciência cívica e política. E, com particular incidência, o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70. Refira-se que esta obra, que se encontra no final da sua primeira edição, foi já lançada noutras latitudes da diáspora portuguesa, designadamente em Espanha (Vigo), Canadá (Toronto) e em França (Paris). Assim como em várias cidades no território nacional (Lisboa, Porto, Braga, Felgueiras, Fafe, Óbidos e Torres Novas). Nascido já depois da Revolução de Abril, e com vários livros publicados no domínio da História e da Emigração, cujas sessões de apresentação o têm colocado em contacto estreito com as comunidades portuguesas, o percurso do historiador e escritor Daniel Bastos tem sido alicerçado no seio da Diáspora. Depois de uma trajetória marcada pela deserção, emigração e exílio nas décadas de 1960-70, Fernando Mariano Cardeira regressou a Portugal após o 25 de Abril de 1974. Foi um dos fundadores da Associação de Exilados Políticos Portugueses (AEP61/74), e presidiu à Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória-NAM.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Museu da Família Teixeira: uma homenagem à emigração madeirense para a Venezuela

A emigração é uma realidade intrínseca à identidade madeirense, marcando desde o povoamento do arquipélago até à atualidade, as suas dimensões sociais, culturais, económicas e políticas. A imensa diáspora da “pérola do Atlântico”, estimada em cerca de 1,5 milhões de madeirenses e descendentes, transportam consigo tradições e memórias pelos quatro cantos do mundo. É essa realidade migratória, na expressão de Vitorino Magalhães Godinho, “uma constante estrutural história portuguesa”, que se encontra a génese do projeto da “História Global da Diáspora Madeirense”, e a futura criação do Museu da Emigração Madeirense. Um vindouro espaço museológico, que pretende homenagear o legado e a memória dos que da Madeira partiram, ao longo dos séculos, para destinos como a África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, Curaçau, Estados Unidos da América, França, Havai, Inglaterra ou Venezuela. É nesta última nação da América Latina, que se encontra radicada a maior comunidade emigrante madeirense, computada em cerca de 300 mil emigrantes e descendentes, num total de meio milhão de luso-venezuelanos. Uma comunidade, maioritariamente formada por naturais da “pérola do Atlântico”, que apesar de viver nos últimos anos imersa numa grave crise económica, política e social, persiste desde a segunda metade do séc. XX, como um pilar estruturante do desenvolvimento urbano, económico e sociocultural da Venezuela. O relevante legado histórico da diáspora madeirense para a pátria de Simón Bolívar, está desde o início da segunda década do séc. XXI plasmado na missão e visão do Museu da Família Teixeira, situado na Fajã da Murta, freguesia do Faial, no concelho de Santana. Um espaço museológico concebido pelo empreendedor e benemérito Aneclet Teixeira de Freitas, emigrante de sucesso na capital venezuelana, onde desde os anos 80 alavancou as cadeias de lojas “Rey David”. E que, tem como principal desígnio homenagear e perpetuar a memória dos seus progenitores, Albino Teixeira e Conceição Caires, naturais de Fajã da Murta, que tal como milhares de conterrâneos, encetaram nos anos 50, uma trajetória migratória familiar para a pátria de Simón Bolívar. Detentor de vários investimentos na América Latina, assim como no torrão natal, onde tem investido em hotéis e imobiliário, contexto que confluiu para que em 2021, no âmbito das comemorações do Dia da Região e das Comunidades Madeirenses, tenha sido agraciado pelo Governo Regional com a Insígnia Autonómica de Bons Serviços. O empresário luso-venezuelano erigiu em Fajã da Murta um espaço museológico que alberga as memórias, objetos, cartas e fotografias da família. Um espaço museológico, aberto ao público e com entrada gratuita, aformoseado por um jardim com vinte palmeiras trazidas do Egipto, uma capela, um coreto e uma adega, que ao preservar a história de vida da Família Teixeira, dinamiza e perpetua a memória histórica do fenómeno da emigração madeirense para a Venezuela. Como assegura a socióloga das migrações, Maria Beatriz Rocha-Trindade, no artigo Museus de Migrações – Porquê e para quem?, o Museu da Família Teixeira “constitui um espaço museológico revelador de muitos factos que se encontram intimamente ligados à vida pessoal de um migrante, que partiu para a Venezuela pelo chamamento do seu pai e que a partir daí construiu habilmente e de forma particularmente inteligente o sucesso obtido”. Nesse sentido, o futuro Museu da Emigração Madeirense, não pode deixar de criar sinergias com o Museu da Família Teixeira, instituído pelo empreendedor e benemérito Aneclet Teixeira, cujo notável percurso de vida, lembra-nos a máxima do escritor francês Joseph Joubert: “A memória é o espelho onde observamos os ausentes”.

segunda-feira, 3 de março de 2025

Orlando Pompeu inaugura duas novas exposições inspiradas pelas vivências na Suíça

No passado fim de semana, o mestre-pintor Orlando Pompeu, detentor de uma obra que está representada em variadas coleções particulares e oficiais em Portugal, Espanha, França, Suíça, Inglaterra, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Dubai e Japão, inaugurou duas novas exposições no território nacional. Estas duas novas exposições, intituladas "Con-Textos Inéditos" e "Con-Textos Helvéticos", assentes num conjunto de pinturas de aguarelas, e que partilham em comum o facto de serem inspiradas nas recentes vivências do artista plástico na Suíça, foram inauguradas, respetivamente, na Art Gallery D. Pedro, no Porto (1 de março), e no Auditório Municipal de Vila Nova de Paiva (2 de março).
Abertura da exposição "Con-Textos Inéditos" na Art Gallery D. Pedro, no Porto (1 de março) Com uma carreira de quase quarenta anos, bem como um currículo nacional e internacional ímpar, ainda em 2022 foi distinguido em Paris com a Medalha de Bronze da Academia Francesa das Artes, Ciências e Letras, Orlando Pompeu prossegue nestas novas exposições, que estão patentes ao público no decurso do presente mês, a celebração da criatividade, do dinamismo visual, do traço livre e espontâneo, que apreendem a essência humana em formas desconstruídas e cheias de vida. Refira-se que nos últimos anos, o consagrado artista plástico tem exposto os seus trabalhos com frequência em exposições muito participadas no território helvético. Nomeadamente na Galeria 111, em Zurique; na Fundação Pro Ronco, em Ascona, no Cantão de Ticino; e no Hotel Casa Berno, junto ao lago alpino Maggiore, que têm contando com a presença de vários colecionadores e admiradores da sua singular criatividade e talento.

domingo, 2 de março de 2025

Miradouro do Vale – Apartamentos: um investimento da diáspora em Portugal

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos Arquipélagos dos Açores e da Madeira, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial. Atualmente, segundo dados dos últimos censos americanos, residem nos EUA mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, principalmente concentrados na Califórnia, Massachusetts, Rhode Island e Nova Jérsia. A grande maioria da população luso-americana trabalha por conta de outrem, na indústria, mas são já muitos os que trabalham nos serviços ou se destacam na área científica, no ensino, nas artes, nas profissões liberais e nas atividades políticas. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, onde proliferam centenas de associações recreativas e culturais, clubes desportivos e sociais, fundações para a educação, bibliotecas, grupos de teatro, bandas filarmónicas, ranchos folclóricos, casas regionais e sociedades de beneficência e religiosas, destacam-se percursos de vida de vários compatriotas que alcançaram o sonho americano ("the American dream”). Entre as várias trajetórias de portugueses que se distinguem pelo papel empreendedor e inovador no contexto da sociedade norte-americana, e que constituem simultaneamente um ativo estratégico na promoção internacional e de investimento económico em Portugal, destaca-se o percurso inspirador de José Luís Vale, um reconhecido empresário na área das estruturas metálicas em Nova Jérsia. Natural de Casal dos Crespos, freguesia de Nossa Senhora da Piedade, concelho de Ourém, José Luís Vale emigrou para os Estados Unidos na década de 1980, na esteira de milhares de compatriotas à procura de melhores condições de vida.
O casal José Luís e Edith Vale, no decurso da abertura da unidade hoteleira “Miradouro do Vale – Apartamentos” em Fátima A chegada ao território americano, onde, entretanto casou e constituiu família, vincou um percurso de vida forjado no trabalho, esforço e resiliência, premissas que impeliram o antigo serralheiro oureense a fundar a Metro Welding Service INC, uma empresa sediada em Nova Jérsia, que fornece soluções de soldagem de alta qualidade a clientes residenciais e comerciais. Conhecido por cultivar a simplicidade e humildade, assim como os valores da família e a firmeza da amizade, o empresário no ramo da soldagem na construção civil nos EUA, mantém uma estreita ligação ao torrão natal. Manifesta, por exemplo, ao longo dos últimos anos, na dinamização de várias iniciativas de apoio aos Bombeiros Voluntários de Ourém, uma centenária corporação do Médio Tejo, da qual José Luís Vale é um dos seus principais beneméritos. A ligação ao torrão natal ficou no início deste mês de março, ainda mais estreitada através da abertura do “Miradouro do Vale – Apartamentos” (www.miradourodovale.com), uma nova unidade hoteleira em Fátima, que reforça a capacidade hoteleira instalada no local de peregrinação mais visitado em Portugal. Localizado no coração de Fátima, a poucos passos do Santuário, o Miradouro do Vale, assente no equilíbrio perfeito entre o conforto e requinte, oferece um refúgio de tranquilidade e conforto. Constituído por 17 apartamentos na modalidade de T1, totalmente equipados com todas as comodidades, incluindo cozinha funcional, áreas amplas e estacionamento privativo, a nova unidade hoteleira, que se distingue por uma vista deslumbrante, permitindo aos hóspedes contemplar a serenidade da cidade a partir de um local exclusivo, representa um investimento de mais de 2 milhões de euros. Ideal para momentos de fé, retiro e descanso, seja para uma curta visita ou uma estadia prolongada, o “Miradouro do Vale – Apartamentos”, constitui um exemplo paradigmático do potencial dos empreendedores da diáspora, que através de uma forte ligação aos seus territórios de origem, investem no desenvolvimento de Portugal. O espírito arrojado luso-americano e o profundo apego às raízes de José Luís Vale, ao perscrutarem as palavras de Fernando Pessoa “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”, consubstanciam a clarividência queirosiana da “Emigração como Força Civilizadora”.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Orlando Pompeu inaugura exposição no Porto

No próximo dia 1 de março (sábado), o mestre-pintor Orlando Pompeu, detentor de uma obra que está representada em variadas coleções particulares e oficiais em Portugal, Espanha, França, Suíça, Inglaterra, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Dubai e Japão, inaugura uma nova exposição individual na capital do Norte. Esta nova exposição, intitulada "Con-Textos Inéditos", assente num conjunto de pinturas de aguarelas inspiradas na recente vivência do artista plástico na Suíça, que apreendem a essência humana em formas desconstruídas e cheias de vida, estreia às 16h30, na Art Gallery D. Pedro.
Com uma carreira de quase quarenta anos, bem como um currículo nacional e internacional ímpar, ainda em 2022 foi distinguido em Paris com a Medalha de Bronze da Academia Francesa das Artes, Ciências e Letras, Orlando Pompeu prossegue nesta nova exposição, que estará patente ao público até 28 de março num espaço de Galeria de Arte contemporânea de referência no Porto, a celebração da criatividade, do dinamismo visual, do traço livre, espontâneo e carregado de personalidade.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

A importância da História e Musealização da Emigração Madeirense

A emigração é uma realidade intrínseca à identidade madeirense, marcando desde o povoamento do arquipélago até à atualidade, as suas dimensões sociais, culturais, económicas e políticas. A imensa diáspora da “pérola do Atlântico”, estimada em cerca de 1,5 milhões de madeirenses e descendentes, que transportam consigo tradições e memórias por todos os continentes, encontra-se “presente em todas as latitudes”, como realça o Monumento ao Emigrante Madeirense na Avenida do Mar, no Funchal. Nesse sentido, o recente lançamento das bases da “História Global da Diáspora Madeirense” e do futuro Museu da Emigração Madeirense, que pretende homenagear o legado e a memória dos que da Madeira partiram, ao longo dos séculos, para destinos como a África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, Curaçau, Estados Unidos da América, França, Havai, Inglaterra ou Venezuela. É, concomitantemente, um projeto marcante na celebração da portugalidade e da madeirensidade, e a concretização de uma antiga aspiração do território arquipelágico e das comunidades da “pérola do Atlântico” pelo mundo fora. Um projeto do estudo global da diáspora madeirense, distintivo da cultura e história do território arquipelágico, que tem no presidente e fundador do Centro de Estudos e Desenvolvimento, Educação, Cultura e Social (CEDECS), o calhetense Eugénio Perregil, um dos seus rostos mais visíveis. Assim como, o professor catedrático machiquense José Eduardo Franco, diretor do Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta, e responsável pela comissão científica que conduzirá a investigação tendente à publicação de mais de uma dezena de volumes sobre os diferentes ciclos migratórios madeirenses. Uma “História Global da Diáspora Madeirense”, que contará com o contributo de várias entidades e investigadores especializados nas múltiplas latitudes da diáspora madeirense, como é o caso, do Professor Auxiliar na Universidade da Madeira e antigo Coordenador do Centro Cultural John Dos Passos, Bernardo de Vasconcelos, reputado investigador da emigração madeirense na Austrália. Este desígnio e imperativo de valorização do conhecimento da história da emigração madeirense, computa ainda a breve trecho, no âmbito das comemorações dos 600 anos do povoamento da Madeira, e dos 50 anos da autonomia regional, a criação do Museu da Emigração Madeirense. Numa primeira fase, um Museu digital capaz de conservar e disponibilizar ao grande público as memórias e os testemunhos dos emigrantes madeirenses. Posteriormente materializado num espaço museológico, quiçá no edifício da Quinta Vila Passos, dado seu simbolismo e papel na história das comunidades madeirenses, cuja missão deve assentar no estudo, preservação e comunicação das expressões materiais e simbólicas da diáspora da “pérola do Atlântico”. Um Museu da Emigração Madeirense, que não pode deixar de criar sinergias com outros espaços museológicos que no território nacional contam a história da emigração portuguesa. Como, por exemplo, o Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe; o Espaço Memória e Fronteira, localizado em Melgaço; o Museu da Emigração Açoriana, instalado na Ribeira Grande; ou o Museu da Família Teixeira, situado na Fajã da Murta, freguesia do Faial, concebido pelo empreendedor e benemérito luso-venezuelano Aneclet Teixeira de Freitas, que ao homenagear os seus progenitores, enaltece os milhares de conterrâneos que encetaram uma trajetória migratória para a pátria de Simón Bolívar. Um Museu da Emigração Madeirense, que se deve interligar com os espaços museológicos que têm sido construídos ao longo das últimas décadas por portugueses no estrangeiro, vários deles com raízes na “pérola do Atlântico”. Como, por exemplo, a Galeria dos Pioneiros Portugueses, em Toronto, que se dedica à dinamização do legado dos pioneiros da emigração portuguesa para o Canadá; o Museu Etnográfico Português em Sydney, na Austrália, que tem procurado manter viva a identidade cultural da comunidade luso-australiana; o Museu Histórico Português em São José, na Califórnia, dedicado às tradições lusas, em especial religiosas, neste estado norte-americano; ou o Museu de Herança Madeirense, situado na cidade de New Bedford, e que preserva e valoriza o legado histórico da emigração madeirense nos Estados Unidos da América. Um Museu da Emigração Madeirense, que tem de se entrecruzar com os museus nacionais espalhados pela dispersa geografia da diáspora portuguesa, e cujos espólios acentuam o contributo marcante da imigração lusa, não raras vezes de matriz madeirense, no desenvolvimento dessas pátrias de acolhimento. Como, por exemplo, o Museu Nacional da Imigração Canadiano, localizado em Halifax, na província da Nova Escócia, que conserva nas suas variadas coleções inúmeros testemunhos da presença portuguesa no país; o Museu Nacional da História da Imigração em Paris, cujos documentos de arquivo, imagens, obras de arte, objetos da vida diária e testemunhos visuais e sonoros destacam o papel e importância da comunidade portuguesa em França; ou o Museu da Baleação de New Bedford, que é geminado com o Museu da Baleia da Madeira. Um Museu da Emigração Madeirense, que pode e deve contar com o apoio do poder político local, regional e nacional, de modo a desempenhar um papel de grande relevância na promoção de uma economia local, regional e nacional de base cultural, criativa e turística. E desse modo caminhar ao encontro da definição de museu aprovada em 2022 pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM): “Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o património material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, e proporcionam experiências diversas de educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento”.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Fundação Nova Era Jean Pina: uma força motriz da solidariedade

Num tempo desafiante e de grandes incertezas, marcado globalmente por riscos políticos, económicos e sociais que a todos afetam, os exemplos de solidariedade que despontam nas sociedades são, concomitantemente, o cimento que nos une e a bússola que nos norteia na esperança de um mundo melhor. Os exemplos de entreajuda e solidariedade, os mais importantes valores que nos humanizam e dão sentido à vida, têm sido ao longo dos anos uma das marcas mais salientes das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Assumindo-se como uma genuína fonte de inspiração e matriz civilizacional, a diáspora lusa mantém uma incessante dinâmica solidária, continuando a apoiar quer compatriotas no estrangeiro, assim como portugueses residentes no território nacional. Um desses exemplos paradigmáticos, é o que tem sido prosseguido, no decurso da última década, pela Fundação Nova Era Jean Pina, constituída em 2019 pelo empresário português João Pina, radicado na região de Paris, um dos mais dinâmicos e beneméritos empresários portugueses em França.
O fundador e presidente da Fundação Nova Era Jean Pina, em visita, no alvorecer do presente mês de fevereiro, ao Centro de Solidariedade Social da Reigada. Natural de Trinta, uma pequena povoação do concelho da Guarda, João Pina emigrou para França nos anos 80, com 19 anos de idade, na esteira de milhares de portugueses que procuravam na pátria gaulesa uma vida melhor. A chegada a Paris, ainda que marcada inicialmente por um conjunto de contratempos e dificuldades, como foi o caso de um acidente grave que fez com que ficasse em coma vários dias, e que concorreu para que se tornasse um zeloso devoto de Nossa Senhora de Fátima, assinalou um percurso de empresário de sucesso na área da construção civil. Presentemente administrador do Grupo Pina Jean, sediado nos arredores de Paris, um conjunto de várias empresas com atividades em áreas como a construção civil, limpeza e reciclagem de resíduos, o sucesso de João Pina, conhecido em terras gaulesas por Jean Pina, no mundo dos negócios, tem sido acompanhado de uma incessante dinâmica de solidariedade social para com os mais desvalidos. Alicerçando a missão primacial da Fundação Nova Era Jean Pina, no lema da instituição “Solidariedade em Movimento”, o emigrante guardense tem dinamizado uma notável cooperação entre França e Portugal através da promoção, apoio e desenvolvimento de projetos de solidariedade para com as pessoas mais desfavorecidas e vulneráveis, como idosos, crianças institucionalizadas e desempregados. Foi neste entrecho, que por exemplo, o empresário luso-francês esteve em 2018 na base do estabelecimento de protocolos entre instituições franco-portuguesas de apoio a deficientes. Ou no ano seguinte, na concretização de um protoloco de cooperação com o Centro Cultural Português em Paris do Instituto Camões com o Groupe Jeunesse SOS – M.E.C.S. Félix Faure, com vista à inserção de alunos franceses através da iniciação à língua e cultura portuguesa. Dinamizador e patrocinador de várias atividades, e projetos de cariz sociocultural e solidário, o empresário e benemérito da comunidade em França, que em 2021 distribuiu pela comunidade luso-venezuelana 200 cabazes de Natal, não olvida as suas raízes pátrias. Pessoalmente ou através da Fundação Nova Era Jean Pina, tem sido responsável pela realização de várias iniciativas filantropas, por exemplo, no distrito da Guarda, Braga e Porto. Ações altruístas, que tem passado, entre outras, pela oferta de bens alimentares, roupa, brinquedos, bolsas de estudo e material pediátrico, que têm mitigado a realidade de dificuldades em que vivem imersas crianças e idosos em várias localidades no território nacional. Ainda no início deste ano, a Fundação Nova Era Jean Pina lançou dois novos projetos sociais, aumentando assim o impacto e o alcance das suas causas na promoção do bem-estar de crianças e seniores. Mormente, o projeto “Raízes de Alegria”, que tem como principal objetivo levar momentos de felicidade e esperança a crianças em lares de acolhimento, hospitais pediátricos e alas pediátricas, proporcionando-lhes brinquedos e sorrisos. E o projeto “Sonhos Sem Idade – Rumo a Paris”, que tem como principal objetivo proporcionar momentos inesquecíveis a seniores que, por diferentes razões, nunca tiveram a oportunidade de fazer uma grande viagem. Com itinerários cuidadosamente planeados para garantir conforto e segurança, permitindo, deste modo, que os participantes desfrutem da experiência ao máximo, está já ultimada a viagem de um grupo inicial de seniores do Centro de Solidariedade Social da Reigada. Uma instituição localizada na vila raiana de Figueira de Castelo Rodrigo, pertencente ao distrito da Guarda, na região da Beira Alta, que disponibiliza cuidados residenciais especializados a seniores, que terão a oportunidade de ver a Torre Eiffel, o Sena e outros encantos da Cidade Luz. Uma das figuras mais gradas da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa, e o rosto mais visível da Fundação Nova Era Jean Pina, a força motriz solidária impulsionada pelo emigrante e benemérito luso-francês, abraça a importância da solidariedade e da atenção aos “marginalizados” da sociedade expressa pelo Papa Francisco, no decurso do ano transato, na Cidade do Vaticano: “A verdadeira essência das pessoas está na solidariedade e no sentido de pertença”.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Artur Brás: o potencial do investimento da diáspora em Portugal

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários lusos da diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Artur Brás. Natural da freguesia de Rossas, situada no concelho minhoto de Vieira do Minho, onde nasceu no seio de uma família de lavradores em 1948. Artur Brás, que teve oportunidade de estudar em Braga, até à adolescência, completando o 5.º ano na Escola Industrial Carlos Amarante, partiu para França em 1965, demandando assim, na esteira de milhares de jovens portugueses, no decurso da ditadura salazarista, escapar ao tirocínio do serviço militar obrigatório na Guerra Colonial. Com um passaporte de estudante e dominando um pouco a língua francesa, o emigrante vieirense não percorreu, ao contrário de inúmeros patrícios, os trilhos da emigração “a salto”. No entanto, a entrada legal em terras gaulesas ficou marcada inicialmente pelo acolhimento de um amigo, durante três dias no “bidonville” de Saint-Denis. Um enorme bairro de lata, com condições de habitabilidade deploráveis, sem eletricidade, sem saneamento nem água potável, que na década de 60 albergou milhares de portugueses, tornando-se um dos principais centros de distribuição de trabalhadores de nacionalidade lusa em França. Revelando desde muito cedo uma personalidade abnegada e profundamente comprometida com o trabalho, valores coligidos no seio familiar minhoto, o jovem vieirense, que começou a trabalhar numa empresa francesa, como ajudante na construção, rapidamente galgou os degraus do sucesso, tornando-se diretor da mesma, aos 26 anos de idade, na região de Seine-et-Marne. Um ano depois, as saudades do torrão natal conduziram Artur Brás a Vieira do Minho, realizando vários investimentos patrimoniais e começando a sua empresa de construção civil. Porém, um acidente de trabalho numa obra fê-lo regressar novamente a França, onde criou em 1977, uma empresa especializada na construção de vivendas de luxo, e conheceu em Paris, a também vieirense Maximina da Silva, grande suporte e companheira de vida com quem casou nessa década. A empresa “Arthur Brás Construções”, tornou-se a partir de então na região de Chantilly, a norte de Paris, onde Artur Brás empreendeu, investiu e lançou as bases do futuro da sua família, uma referência de elevada qualidade na construção e um nome carregado de seriedade e respeito. Lançando-se igualmente no setor da promoção imobiliária, o emigrante e empreendedor ainda tentou aos quarenta anos o regresso à terra mãe, mas abandonado lestamente o propósito, consolidou o “Grupo Arthur Brás” através dos alicerces de mais de uma dezena de empresas, dedicadas ao património, construção e promoção imobiliária. A implantação no sector de construção e promoção imobiliária, e a notável capacidade empreendedora marcada pelo mérito de Artur Brás, alavancaram em 2018, no dia do seu 70.º aniversário, a inauguração da joia do grupo, o Hyatt Regency Chantilly, um hotel de quatro estrelas. Conhecido por cultivar a discrição, assim como os valores da família e a firmeza da amizade, o emigrante e empresário vieirense, que mantém uma estreita ligação à pátria de Camões, corporaliza o ativo e potencial estratégico do investimento da diáspora em Portugal, como seja o caso, do setor da construção. Numa época em que Portugal enfrenta um dos seus maiores desafios habitacionais, marcado pela necessidade urgente de aumentar a oferta de casas e torná-las mais acessíveis, o empreendedor de sucesso tem projetos em construção em Braga, junto à Universidade do Minho e do Hospital de Braga, com uma elevada procura por parte de professores e profissionais de saúde. Além deste relevante investimento no município de Braga, que nos últimos anos ultrapassou a barreira dos 200 mil habitantes, sendo mesmo o território que mais aumentou a população, na última década, entre os maiores concelhos do país. O empresário luso-francês, tem também em fase de arranque, a construção de meia centena de apartamentos, no concelho de Amares, na margem direita do rio Cávado, a nordeste de Braga. Ainda no Baixo Minho, o emigrante de sucesso tem presentemente em estudo de viabilidade, projetos de construção em Vieira do Minho. Torrão natal de Artur Brás, que em 2021, no âmbito do 507.º aniversário de elevação a concelho de Vieira do Minho, homenageou o ilustre filho da terra no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Expandindo assim no território nacional as suas atividades, o emigrante luso-francês, ao aproveitar o dinamismo do mercado imobiliário português, alavanca o crescimento económico do “Grupo Arthur Brás”, através do desenvolvimento económico de concelhos no norte de Portugal, criando postos de trabalho, investimentos e fixando população. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa, a resposta do emigrante e empreendedor Artur Brás às graves carências habitacionais do país, evidencia como a vasta diáspora pode e deve constituir um importante fator de desenvolvimento do país. Como afirmava Fernando Pessoa, o maior poeta nacional do século XX: “O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo”.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Daniel Bastos evocou em Avintes legado dos emigrantes “brasileiros de torna-viagem”

No passado dia 1 de fevereiro (sábado), a Junta de Freguesia de Avintes, evocou o legado histórico e patrimonial dos emigrantes “brasileiros de torna-viagem” no final do séc. XIX, que tiveram um papel preponderante no desenvolvimento desta povoação do Município de Vila Nova de Gaia.
A iniciativa, no âmbito das comemorações do mês de Avintes, e que decorreu na Casa da Cultura Francisco Marques Rodrigues Júnior, abrangeu a inauguração da exposição “Brasileiros” de Avintes, onde se encontram patentes, até ao próximo mês de março, as figuras, os nomes e trajetórias de muitos avintenses e as marcas que estes deixaram no torrão natal, como sejam, as casas, escolas e associações que construíram e apoiaram. Assim como, uma palestra dedicada aos “Brasileiros de Torna-viagem”, proferida pelos historiadores José Vaz e Daniel Bastos, que se encheu de público e computou a presença do presidente da Junta de Freguesia de Avintes, Cipriano Castro, e da vereadora do Município de Vila Nova de Gaia, Célia Correia. No caso do escritor e diretor da coletânea “Cadernos da História d’Abientes”, José Vaz, o mesmo apontou que no séc. XIX a emigração levou muitos avintenses para o Brasil, sendo que os que fizeram fortuna e regressar foram a força transformadora da terra. Por seu lado, o historiador da diáspora, natural de Fafe, Daniel Bastos, destacou a transformação contemporânea no noroeste de Portugal, operada pelo empreendedorismo e benemerência dos “brasileiros de torna-viagem”. Como é o caso paradigmático do concelho de Fafe, cujas marcas identitárias do ciclo do retorno dos "brasileiros", impulsionaram a criação do Museu das Migrações e das Comunidades.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

José Carlos Teixeira: um paladino da comunidade portuguesa no Canadá

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico, político e associativo. Nos vários exemplos de difusão e promoção da cultura portuguesa na diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico no progresso e reconhecimento do país, tem-se destacado, ao longo dos últimos anos, o percurso notável de José Carlos Teixeira, professor de Geografia na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. Natural dos Açores, da ilha de São Miguel, freguesia da Ribeira Grande – Matriz, José Carlos Teixeira emigrou, como estudante estrangeiro, no ocaso dos anos 70 para Montreal, a maior cidade da província do Quebeque, no Canadá, onde vivem atualmente mais de 75 mil portugueses e lusodescendentes. A estadia em Montreal, facilitada pela presença de um tio paterno, pioneiro da emigração açoriana, possibilitou ao jovem ribeira-grandense frequentar um colégio para aprender a língua francesa. E posteriormente, no decurso da década de 1980, iniciar o bacharelato e, mais tarde, o mestrado em Geografia na Universidade do Quebeque, com uma tese intitulada “A mobilidade residencial intra-urbana dos portugueses em Montreal”. Em 1986, o cientista social açoriano, mudou-se para Toronto, onde vivia o grande suporte e companheira de vida, Maria Teixeira, e onde se concentram hodiernamente, a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá. A estadia em Toronto, impulsionou a prossecução dos estudos de doutoramento na Universidade de York, com uma dissertação dedicada ao “Papel das Fontes Étnicas de Informação na Decisão de Deslocalização – O processo de tomada de decisão: Um estudo de caso dos portugueses em Mississauga”. Com uma carreira académica fulgurante, assente ainda num pós-doutoramento, também dedicado às áreas de residência das comunidades portuguesas como foco de estudo e de investigação, José Carlos Teixeira, lecionou na Universidade de York até 1996, sendo depois contratado pela Universidade de Toronto, onde foi docente durante cinco anos. Reconhecido especialista em geografias de migração, povoamento e urbanização no Canadá, o cientista social e docente, que em 2005 ingressou nos quadros da Universidade da Colúmbia Britânica, a instituição de ensino superior mais antiga da província da Colúmbia Britânica, onde é desde 2013 professor catedrático, tem colocado sempre as comunidades portuguesas disseminadas pelo território canadiano, no centro das suas investigações. Com mais de uma centena de publicações, a excelência académica do seu trabalho na nação canadiana, focado na estrutura e evolução das comunidades, na mobilidade para os subúrbios e no papel do comércio étnico dos portugueses, encontra-se espelhada, ao longo das últimas décadas, em inúmeras distinções. Entre outras, destaca-se o “Prémio de Investigação da Universidade da Columbia Britânica – Okanagan”, o “UBC Okanagan Provost’s Award for Public Education through Media Award” e pela Association of American Geographers, o “Ethnic Geography Distinguished Scholar Award”, ou o Prémio de Excelência Profissional do FPCBC. A sua constante e apaixonada dedicação na promoção da portugalidade, em geral, e da açorianidade, em particular, no Canadá, o segundo maior país do mundo em área total, concorreram decisivamente para que em 2005, tenha recebido durante uma cerimónia no campus universitário de Kelowna, das mãos do Cônsul de Portugal em Vancouver, a Ordem do Infante D. Henrique. Uma ordem honorífica portuguesa, que visa distinguir a prestação de serviços relevantes a Portugal, no país ou no estrangeiro, ou serviços na expansão da cultura portuguesa, da sua História e dos seus valores. Assim como, em 2023, ano em que decorreram as celebrações oficiais dos 70 anos da emigração portuguesa para o Canadá, tenha passado a figurar no “Portuguese Canadian Walk of Fame”, que anualmente laureia portugueses que se têm destacado no território canadiano. A sua profunda ligação e conhecimento identitário do torrão natal, estão igualmente na base da Insígnia Autonómica de Mérito Profissional, que lhe foi conferida, em 2009, pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Um símbólico reconhecimento público para com um ilustre filho do território arquipelágico, que ao longo dos anos, tem contribuído para a consolidação histórica e cultural da açorianidade no Canadá. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa no Canadá, uma das mais relevantes comunidades lusas na América do Norte, que se destaca pela dinâmica da sua atividade associativa, económica e sociopolítica, o percurso de vida do professor catedrático e comendador José Carlos Teixeira, inspira-nos a máxima do filósofo José Ortega y Gasset: “A cultura é uma necessidade imprescindível de toda uma vida, é uma dimensão constitutiva da existência humana, como as mãos são um atributo do homem”.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Relembrar Auschwitz

Relembrar Auschwitz Vagueiam nus em Auschwitz, perdidos no silêncio infame, os corpos dos nossos irmãos aguardando disformes o prenúncio da morte. Arrastam-se lentamente presos num corpo despojado de dignidade que já foi seu. Imploram aos carcereiros obreiros da iniquidade, alivio para a dor lancinante que dilacera as entranhas da humanidade. Erguem-se em Auschwitz as vozes dos inocentes que padeceram a crueldade hedionda do Holocausto. Repousam em Auschwitz as cinzas da história que nunca devíamos ter deixado acontecer! Daniel Bastos, “Relembrar Auschwitz” in Terra.
“Relembrar Auschwitz” - Desenho do artista plástico Orlando Pompeu, in Terra.

sábado, 25 de janeiro de 2025

Manuel Soares: empreendedorismo e inovação na diáspora portuguesa

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários lusos da diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Manuel Soares. Natural de Sever do Vouga, no distrito de Aveiro, onde nasceu em 1964, Manuel Soares partiu, no alvorecer da maioridade, para França, a mais numerosa das comunidades portuguesas na Europa e uma das principais comunidades estrangeira estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas. Encetando um percurso socioprofissional, inicialmente com o seu pai numa empresa, que forjou uma personalidade abnegada, e profundamente comprometida com o trabalho e a família. Dotado de um singular espírito empreendedor e capacidade inovadora, o emigrante severense criou no ocaso dos anos 80 a sua primeira empresa na área dos mosaicos, e nos anos 90, na “Cidade Luz”, fundou aquela que é atualmente a referência do seu grupo empresarial, a Real Marbre, uma empresa de revestimentos em mármore e pedra, com sede na rua de Saint Florentin, perto da Concorde. A qual é, até aos dias de hoje, uma parceira privilegiada das maiores empresas de “design” de interiores, responsável pela decoração de lojas de conceituadas marcas de moda internacionais, como a Louis Vuitton, Prada, Dior, Yves Saint Laurent, Gucci e Celine, entre outras. Assim como, de hotéis de cinco estrelas, como por exemplo, o Hôtel Lutetia ou o Hotel Crillon, em Paris, e habitações de luxo, em parceria com arquitetos e “designers” de interiores. Entre as características mais distintivas do empresário de sucesso radicado em Paris, detentor de um grupo empresarial que fatura anualmente entre vinte e cinco a trinta milhões de euros, destaca-se ainda a profunda ligação e sentimento pátrio, que conjuga com a constante promoção de uma cultura de inovação. Como corrobora o conceito desenvolvido a partir de 2015, em que as pedras de mármores são estruturadas em forma de “favo de abelha”, e cuja produção, passou a ser processada em Viana do Castelo, na capital do Alto Minho, que recebeu deste modo um investimento que gerou cerca de duas dezenas de postos de trabalho e um importante impulso económico. Um estímulo na coesão territorial, que a Real Marbre ampliou nos últimos anos na região, com o investimento de cerca de quatro milhões de euros, numa nova fábrica na Zona Industrial do Neiva, e que alavancou a criação de uma trintena de novos postos de trabalho. É a partir do “coração do Minho”, que a empresa pertencente ao Grupo Manuel Soares (Real Marbre, Ventestival, Stone Dark e Mineral System), recebe mármores de todo o mundo, que são ali trabalhados e exportados para várias latitudes geográficas. Como França, Dubai, Japão ou Estados Unidos, onde decoram lojas de marcas de luxo, mormente, a Louis Vuitton, Prada, Dior, Yves Saint Laurent, Gucci ou Celine. O sucesso que o empresário emigrante alcançou ao longo das últimas décadas no mundo dos negócios, tem sido acompanhado igualmente de uma estreita ligação e apoio à comunidade luso-francesa. Como espelha, a sua dimensão de dirigente associativo da Academia do Bacalhau de Paris, uma coletividade, a cujos destinos, presidiu de 2019 a 2022, e que nos últimos anos tem fomentado uma intensa atividade na promoção da solidariedade e portugalidade na capital francesa. É o caso, por exemplo, da campanha de solidariedade anualmente realizada na quadra natalícia, através da recolha de roupa, calçado, artigos para o lar e brinquedos, que são distribuídos por agregados familiares carenciados, e associações em França e Portugal. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade luso-francesa, o percurso de vida de Manuel Soares, empresário da diáspora e genuíno embaixador de Portugal no mundo, robustecem as palavras do Chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, no ocaso do ano transato, aquando do encontro anual do Conselho da Diáspora Portuguesa: “A Diáspora Portuguesa é inseparável da nossa história e do nosso soft power. Nós somos portugueses, somos universais e por isso a Diáspora é um fator estratégico essencial para o país pelo impacto artístico, cultural, científico e tecnológico que promove”.

sábado, 18 de janeiro de 2025

Fundações e filantropia nas comunidades portuguesas

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é seguramente a sua dimensão solidária, uma genuína marca genética da diáspora lusa, constantemente expressa em gestos, campanhas e iniciativas fautoras de valores humanistas e altruístas. Dentro da centelha filantropa que brilha incessantemente no seio da dispersa geografia das comunidades portuguesas, destaca-se ao longo das últimas décadas, a criação e dinamização de fundações assentes nos princípios da filantropia, instituídas por iniciativa de emigrantes de sucesso com o propósito de dar expressão organizada ao dever moral de justiça, e de solidariedade nas pátrias de acolhimento e de origem. Uma das latitudes paradigmáticas da diáspora onde avultam os exemplos de fundações, instituídas por emigrantes portugueses, que desempenham um papel fundamental no cenário filantrópico, é indubitavelmente os Estados Unidos da América (EUA). A cultura filantropa, profundamente enraizada na nação mais influente do mundo, onde o impacto social do investimento benemérito feito por empresas e entidades é reconhecido na sociedade, tem ao longo das últimas décadas inspirado vários emigrantes luso-americanos a instituir fundações sem fins lucrativos, dedicadas à beneficência, à cultura, ao ensino e a outros fins de interesse público. No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destaca-se por exemplo, desde a primeira década do séc. XXI, o papel incontornável da Fundação António Amaral, em Palm Coast, cidade localizada no estado da Flórida, na promoção da cultura e língua portuguesa. Instituída em 2006, pelo empresário no sector da construção e imobiliário Tony Amaral, benemérito e fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast, e radicado há mais de meio século na América, a Fundação António Amaral tem como missão principal a atribuição de bolsas de estudo a jovens de origem portuguesa na Flórida. No decurso das últimas décadas, a Fundação António Amaral, através do espírito empreendedor e ação solidária do emigrante natural de Ovar, entrega bolsas de estudo a alunos lusodescendentes na Flórida, tendo até ao momento, distribuído 250 bolsas, num montante de quase meio milhão de dólares. Uma missão e valores que perpassam outras áreas em prol da comunidade luso-americana, porquanto a Fundação António Amaral tem apoiado ao longo dos anos, com milhares de dólares, diversas instituições na Flórida e em Portugal, assim como agregados carenciados que têm tido na generosidade da família Amaral uma bússola e um porto de abrigo. Um outro exemplo paradigmático, encontra-se plasmado na magnanimidade do emigrante luso-americano Manuel Carvalho, natural do concelho de Anadia. Em 2017, o conhecido empresário na área da restauração em Mineola, no estado de Nova Iorque, em conjunto com a sua esposa Jackie, criou a Fundação Família Carvalho. A notável filantropia do empresário luso-americano tem possibilitado, através da Fundação Família Carvalho, encontrar formas e meios para apetrechar ao longo dos anos, entre outros, os Bombeiros Voluntários de Anadia. Ainda no verão passado, a Fundação Família Carvalho, deu um importante contributo na promoção e preservação da língua, costumes e tradições portuguesas em Long Island, entregando dois donativos no montante total de 16 mil dólares, à Escola Portuguesa Júlio Dinis e ao Rancho Folclórico “Sonhos e Juventude de Portugal”. Na Califórnia, o estado com maior diáspora de origem portuguesa nos EUA, onde residem mais de 300 mil luso-americanos, na sua maioria oriundos dos Açores, este espírito filantropo encontra-se vertido na “Carlos Vieira Foundation”. Uma instituição oficialmente fundada em 2010 pelo empresário luso-americano e automobilista Carlos Vieira, sediada em Livingston, no condado de Merced, cuja missão e visão assentam em três áreas essenciais de atuação: autismo, abuso de drogas e estigma de saúde mental. Ao longo dos últimos anos, a Fundação Carlos Vieira, na esteira dos valores coligidos no seio do patriarca da família, o comendador Manuel Eduardo Vieira, o maior produtor mundial de batata-doce biológica e uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana, apoia famílias em mais de duas dezenas de municípios no Vale Central da Califórnia, através por exemplo, de subsídios, assistência financeira ou apoio de necessidades médicas. Um outro relevante eixo de ação da Fundação Carlos Vieira está ligado à preservação da cultura e tradições da comunidade lusa na Califórnia, como evidencia a criação, em 2019, do Festival Português do Vale de São Joaquim, e que desde então, tem unido anualmente milhares de luso-americanos em torno da herança portuguesa, mormente a gastronomia, arte, comédia e música tradicional. Fora da geografia da diáspora lusa norte-americana, é possível também encontrar organizações filantrópicas criadas por emigrantes empreendedores de sucesso. Como por exemplo, em França, a mais numerosa das comunidades portuguesas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas. Desde 2019, ano em que o empresário português João Pina, radicado na região de Paris e presentemente administrador do Grupo Pina Jean, que se tem destacado em atividades em áreas como a construção civil, limpeza e reciclagem de resíduos, constituiu a Fundação Nova Era Jean Pina. Tem sido dinamizado um intenso conjunto de atividades e projetos de solidariedade luso-franceses para com pessoas desfavorecidas e vulneráveis, como idosos, crianças institucionalizadas e desempregados. A benemerência do emigrante natural do concelho da Guarda, expressa através da ação perseverante da Fundação Nova Era Jean Pina, tem carrilado inúmeros géneros alimentares, brinquedos e roupa, entre outros bens, para agregados familiares e instituições no território nacional. Como seja o caso da região da Guarda, onde têm sido várias as ceias de Natal organizadas pela Fundação Nova Era Jean Pina, para as quais convida crianças institucionalizadas e idosos isolados. Ou, mesmo noutras latitudes da diáspora portuguesa, como em 2021, quando através da assinatura de um protocolo de colaboração entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a Fundação Nova Era Jean Pina e a Federação Iberoamericana de Luso Descendentes, foram oferecidos 200 cabazes de Natal a agregados familiares, carenciados, de nacionalidade portuguesa ou luso descendentes, residentes na Venezuela. A missão, visão e valores destas fundações filantrópicas, e outras que se encontram ou possam vir a ser instituídas no seio da diáspora, são uma indubitável mais-valia no apoio às comunidades lusas no estrangeiro, na preservação e dinamização da cultura, das tradições e língua portuguesa no mundo. Inspirando-nos a máxima do poeta e filósofo Friedrich Schiller: “Não temos nas nossas mãos as soluções para todos os problemas do mundo, mas diante de todos os problemas do mundo temos as nossas mãos”.