Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Orlando Pompeu inaugura exposição no Porto

No próximo dia 1 de março (sábado), o mestre-pintor Orlando Pompeu, detentor de uma obra que está representada em variadas coleções particulares e oficiais em Portugal, Espanha, França, Suíça, Inglaterra, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Dubai e Japão, inaugura uma nova exposição individual na capital do Norte. Esta nova exposição, intitulada "Con-Textos Inéditos", assente num conjunto de pinturas de aguarelas inspiradas na recente vivência do artista plástico na Suíça, que apreendem a essência humana em formas desconstruídas e cheias de vida, estreia às 16h30, na Art Gallery D. Pedro.
Com uma carreira de quase quarenta anos, bem como um currículo nacional e internacional ímpar, ainda em 2022 foi distinguido em Paris com a Medalha de Bronze da Academia Francesa das Artes, Ciências e Letras, Orlando Pompeu prossegue nesta nova exposição, que estará patente ao público até 28 de março num espaço de Galeria de Arte contemporânea de referência no Porto, a celebração da criatividade, do dinamismo visual, do traço livre, espontâneo e carregado de personalidade.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

A importância da História e Musealização da Emigração Madeirense

A emigração é uma realidade intrínseca à identidade madeirense, marcando desde o povoamento do arquipélago até à atualidade, as suas dimensões sociais, culturais, económicas e políticas. A imensa diáspora da “pérola do Atlântico”, estimada em cerca de 1,5 milhões de madeirenses e descendentes, que transportam consigo tradições e memórias por todos os continentes, encontra-se “presente em todas as latitudes”, como realça o Monumento ao Emigrante Madeirense na Avenida do Mar, no Funchal. Nesse sentido, o recente lançamento das bases da “História Global da Diáspora Madeirense” e do futuro Museu da Emigração Madeirense, que pretende homenagear o legado e a memória dos que da Madeira partiram, ao longo dos séculos, para destinos como a África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, Curaçau, Estados Unidos da América, França, Havai, Inglaterra ou Venezuela. É, concomitantemente, um projeto marcante na celebração da portugalidade e da madeirensidade, e a concretização de uma antiga aspiração do território arquipelágico e das comunidades da “pérola do Atlântico” pelo mundo fora. Um projeto do estudo global da diáspora madeirense, distintivo da cultura e história do território arquipelágico, que tem no presidente e fundador do Centro de Estudos e Desenvolvimento, Educação, Cultura e Social (CEDECS), o calhetense Eugénio Perregil, um dos seus rostos mais visíveis. Assim como, o professor catedrático machiquense José Eduardo Franco, diretor do Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta, e responsável pela comissão científica que conduzirá a investigação tendente à publicação de mais de uma dezena de volumes sobre os diferentes ciclos migratórios madeirenses. Uma “História Global da Diáspora Madeirense”, que contará com o contributo de várias entidades e investigadores especializados nas múltiplas latitudes da diáspora madeirense, como é o caso, do Professor Auxiliar na Universidade da Madeira e antigo Coordenador do Centro Cultural John Dos Passos, Bernardo de Vasconcelos, reputado investigador da emigração madeirense na Austrália. Este desígnio e imperativo de valorização do conhecimento da história da emigração madeirense, computa ainda a breve trecho, no âmbito das comemorações dos 600 anos do povoamento da Madeira, e dos 50 anos da autonomia regional, a criação do Museu da Emigração Madeirense. Numa primeira fase, um Museu digital capaz de conservar e disponibilizar ao grande público as memórias e os testemunhos dos emigrantes madeirenses. Posteriormente materializado num espaço museológico, quiçá no edifício da Quinta Vila Passos, dado seu simbolismo e papel na história das comunidades madeirenses, cuja missão deve assentar no estudo, preservação e comunicação das expressões materiais e simbólicas da diáspora da “pérola do Atlântico”. Um Museu da Emigração Madeirense, que não pode deixar de criar sinergias com outros espaços museológicos que no território nacional contam a história da emigração portuguesa. Como, por exemplo, o Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe; o Espaço Memória e Fronteira, localizado em Melgaço; o Museu da Emigração Açoriana, instalado na Ribeira Grande; ou o Museu da Família Teixeira, situado na Fajã da Murta, freguesia do Faial, concebido pelo empreendedor e benemérito luso-venezuelano Aneclet Teixeira de Freitas, que ao homenagear os seus progenitores, enaltece os milhares de conterrâneos que encetaram uma trajetória migratória para a pátria de Simón Bolívar. Um Museu da Emigração Madeirense, que se deve interligar com os espaços museológicos que têm sido construídos ao longo das últimas décadas por portugueses no estrangeiro, vários deles com raízes na “pérola do Atlântico”. Como, por exemplo, a Galeria dos Pioneiros Portugueses, em Toronto, que se dedica à dinamização do legado dos pioneiros da emigração portuguesa para o Canadá; o Museu Etnográfico Português em Sydney, na Austrália, que tem procurado manter viva a identidade cultural da comunidade luso-australiana; o Museu Histórico Português em São José, na Califórnia, dedicado às tradições lusas, em especial religiosas, neste estado norte-americano; ou o Museu de Herança Madeirense, situado na cidade de New Bedford, e que preserva e valoriza o legado histórico da emigração madeirense nos Estados Unidos da América. Um Museu da Emigração Madeirense, que tem de se entrecruzar com os museus nacionais espalhados pela dispersa geografia da diáspora portuguesa, e cujos espólios acentuam o contributo marcante da imigração lusa, não raras vezes de matriz madeirense, no desenvolvimento dessas pátrias de acolhimento. Como, por exemplo, o Museu Nacional da Imigração Canadiano, localizado em Halifax, na província da Nova Escócia, que conserva nas suas variadas coleções inúmeros testemunhos da presença portuguesa no país; o Museu Nacional da História da Imigração em Paris, cujos documentos de arquivo, imagens, obras de arte, objetos da vida diária e testemunhos visuais e sonoros destacam o papel e importância da comunidade portuguesa em França; ou o Museu da Baleação de New Bedford, que é geminado com o Museu da Baleia da Madeira. Um Museu da Emigração Madeirense, que pode e deve contar com o apoio do poder político local, regional e nacional, de modo a desempenhar um papel de grande relevância na promoção de uma economia local, regional e nacional de base cultural, criativa e turística. E desse modo caminhar ao encontro da definição de museu aprovada em 2022 pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM): “Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o património material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, e proporcionam experiências diversas de educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento”.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Fundação Nova Era Jean Pina: uma força motriz da solidariedade

Num tempo desafiante e de grandes incertezas, marcado globalmente por riscos políticos, económicos e sociais que a todos afetam, os exemplos de solidariedade que despontam nas sociedades são, concomitantemente, o cimento que nos une e a bússola que nos norteia na esperança de um mundo melhor. Os exemplos de entreajuda e solidariedade, os mais importantes valores que nos humanizam e dão sentido à vida, têm sido ao longo dos anos uma das marcas mais salientes das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Assumindo-se como uma genuína fonte de inspiração e matriz civilizacional, a diáspora lusa mantém uma incessante dinâmica solidária, continuando a apoiar quer compatriotas no estrangeiro, assim como portugueses residentes no território nacional. Um desses exemplos paradigmáticos, é o que tem sido prosseguido, no decurso da última década, pela Fundação Nova Era Jean Pina, constituída em 2019 pelo empresário português João Pina, radicado na região de Paris, um dos mais dinâmicos e beneméritos empresários portugueses em França.
O fundador e presidente da Fundação Nova Era Jean Pina, em visita, no alvorecer do presente mês de fevereiro, ao Centro de Solidariedade Social da Reigada. Natural de Trinta, uma pequena povoação do concelho da Guarda, João Pina emigrou para França nos anos 80, com 19 anos de idade, na esteira de milhares de portugueses que procuravam na pátria gaulesa uma vida melhor. A chegada a Paris, ainda que marcada inicialmente por um conjunto de contratempos e dificuldades, como foi o caso de um acidente grave que fez com que ficasse em coma vários dias, e que concorreu para que se tornasse um zeloso devoto de Nossa Senhora de Fátima, assinalou um percurso de empresário de sucesso na área da construção civil. Presentemente administrador do Grupo Pina Jean, sediado nos arredores de Paris, um conjunto de várias empresas com atividades em áreas como a construção civil, limpeza e reciclagem de resíduos, o sucesso de João Pina, conhecido em terras gaulesas por Jean Pina, no mundo dos negócios, tem sido acompanhado de uma incessante dinâmica de solidariedade social para com os mais desvalidos. Alicerçando a missão primacial da Fundação Nova Era Jean Pina, no lema da instituição “Solidariedade em Movimento”, o emigrante guardense tem dinamizado uma notável cooperação entre França e Portugal através da promoção, apoio e desenvolvimento de projetos de solidariedade para com as pessoas mais desfavorecidas e vulneráveis, como idosos, crianças institucionalizadas e desempregados. Foi neste entrecho, que por exemplo, o empresário luso-francês esteve em 2018 na base do estabelecimento de protocolos entre instituições franco-portuguesas de apoio a deficientes. Ou no ano seguinte, na concretização de um protoloco de cooperação com o Centro Cultural Português em Paris do Instituto Camões com o Groupe Jeunesse SOS – M.E.C.S. Félix Faure, com vista à inserção de alunos franceses através da iniciação à língua e cultura portuguesa. Dinamizador e patrocinador de várias atividades, e projetos de cariz sociocultural e solidário, o empresário e benemérito da comunidade em França, que em 2021 distribuiu pela comunidade luso-venezuelana 200 cabazes de Natal, não olvida as suas raízes pátrias. Pessoalmente ou através da Fundação Nova Era Jean Pina, tem sido responsável pela realização de várias iniciativas filantropas, por exemplo, no distrito da Guarda, Braga e Porto. Ações altruístas, que tem passado, entre outras, pela oferta de bens alimentares, roupa, brinquedos, bolsas de estudo e material pediátrico, que têm mitigado a realidade de dificuldades em que vivem imersas crianças e idosos em várias localidades no território nacional. Ainda no início deste ano, a Fundação Nova Era Jean Pina lançou dois novos projetos sociais, aumentando assim o impacto e o alcance das suas causas na promoção do bem-estar de crianças e seniores. Mormente, o projeto “Raízes de Alegria”, que tem como principal objetivo levar momentos de felicidade e esperança a crianças em lares de acolhimento, hospitais pediátricos e alas pediátricas, proporcionando-lhes brinquedos e sorrisos. E o projeto “Sonhos Sem Idade – Rumo a Paris”, que tem como principal objetivo proporcionar momentos inesquecíveis a seniores que, por diferentes razões, nunca tiveram a oportunidade de fazer uma grande viagem. Com itinerários cuidadosamente planeados para garantir conforto e segurança, permitindo, deste modo, que os participantes desfrutem da experiência ao máximo, está já ultimada a viagem de um grupo inicial de seniores do Centro de Solidariedade Social da Reigada. Uma instituição localizada na vila raiana de Figueira de Castelo Rodrigo, pertencente ao distrito da Guarda, na região da Beira Alta, que disponibiliza cuidados residenciais especializados a seniores, que terão a oportunidade de ver a Torre Eiffel, o Sena e outros encantos da Cidade Luz. Uma das figuras mais gradas da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa, e o rosto mais visível da Fundação Nova Era Jean Pina, a força motriz solidária impulsionada pelo emigrante e benemérito luso-francês, abraça a importância da solidariedade e da atenção aos “marginalizados” da sociedade expressa pelo Papa Francisco, no decurso do ano transato, na Cidade do Vaticano: “A verdadeira essência das pessoas está na solidariedade e no sentido de pertença”.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Artur Brás: o potencial do investimento da diáspora em Portugal

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político. Nos vários exemplos de empresários lusos da diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Artur Brás. Natural da freguesia de Rossas, situada no concelho minhoto de Vieira do Minho, onde nasceu no seio de uma família de lavradores em 1948. Artur Brás, que teve oportunidade de estudar em Braga, até à adolescência, completando o 5.º ano na Escola Industrial Carlos Amarante, partiu para França em 1965, demandando assim, na esteira de milhares de jovens portugueses, no decurso da ditadura salazarista, escapar ao tirocínio do serviço militar obrigatório na Guerra Colonial. Com um passaporte de estudante e dominando um pouco a língua francesa, o emigrante vieirense não percorreu, ao contrário de inúmeros patrícios, os trilhos da emigração “a salto”. No entanto, a entrada legal em terras gaulesas ficou marcada inicialmente pelo acolhimento de um amigo, durante três dias no “bidonville” de Saint-Denis. Um enorme bairro de lata, com condições de habitabilidade deploráveis, sem eletricidade, sem saneamento nem água potável, que na década de 60 albergou milhares de portugueses, tornando-se um dos principais centros de distribuição de trabalhadores de nacionalidade lusa em França. Revelando desde muito cedo uma personalidade abnegada e profundamente comprometida com o trabalho, valores coligidos no seio familiar minhoto, o jovem vieirense, que começou a trabalhar numa empresa francesa, como ajudante na construção, rapidamente galgou os degraus do sucesso, tornando-se diretor da mesma, aos 26 anos de idade, na região de Seine-et-Marne. Um ano depois, as saudades do torrão natal conduziram Artur Brás a Vieira do Minho, realizando vários investimentos patrimoniais e começando a sua empresa de construção civil. Porém, um acidente de trabalho numa obra fê-lo regressar novamente a França, onde criou em 1977, uma empresa especializada na construção de vivendas de luxo, e conheceu em Paris, a também vieirense Maximina da Silva, grande suporte e companheira de vida com quem casou nessa década. A empresa “Arthur Brás Construções”, tornou-se a partir de então na região de Chantilly, a norte de Paris, onde Artur Brás empreendeu, investiu e lançou as bases do futuro da sua família, uma referência de elevada qualidade na construção e um nome carregado de seriedade e respeito. Lançando-se igualmente no setor da promoção imobiliária, o emigrante e empreendedor ainda tentou aos quarenta anos o regresso à terra mãe, mas abandonado lestamente o propósito, consolidou o “Grupo Arthur Brás” através dos alicerces de mais de uma dezena de empresas, dedicadas ao património, construção e promoção imobiliária. A implantação no sector de construção e promoção imobiliária, e a notável capacidade empreendedora marcada pelo mérito de Artur Brás, alavancaram em 2018, no dia do seu 70.º aniversário, a inauguração da joia do grupo, o Hyatt Regency Chantilly, um hotel de quatro estrelas. Conhecido por cultivar a discrição, assim como os valores da família e a firmeza da amizade, o emigrante e empresário vieirense, que mantém uma estreita ligação à pátria de Camões, corporaliza o ativo e potencial estratégico do investimento da diáspora em Portugal, como seja o caso, do setor da construção. Numa época em que Portugal enfrenta um dos seus maiores desafios habitacionais, marcado pela necessidade urgente de aumentar a oferta de casas e torná-las mais acessíveis, o empreendedor de sucesso tem projetos em construção em Braga, junto à Universidade do Minho e do Hospital de Braga, com uma elevada procura por parte de professores e profissionais de saúde. Além deste relevante investimento no município de Braga, que nos últimos anos ultrapassou a barreira dos 200 mil habitantes, sendo mesmo o território que mais aumentou a população, na última década, entre os maiores concelhos do país. O empresário luso-francês, tem também em fase de arranque, a construção de meia centena de apartamentos, no concelho de Amares, na margem direita do rio Cávado, a nordeste de Braga. Ainda no Baixo Minho, o emigrante de sucesso tem presentemente em estudo de viabilidade, projetos de construção em Vieira do Minho. Torrão natal de Artur Brás, que em 2021, no âmbito do 507.º aniversário de elevação a concelho de Vieira do Minho, homenageou o ilustre filho da terra no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Expandindo assim no território nacional as suas atividades, o emigrante luso-francês, ao aproveitar o dinamismo do mercado imobiliário português, alavanca o crescimento económico do “Grupo Arthur Brás”, através do desenvolvimento económico de concelhos no norte de Portugal, criando postos de trabalho, investimentos e fixando população. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa, a resposta do emigrante e empreendedor Artur Brás às graves carências habitacionais do país, evidencia como a vasta diáspora pode e deve constituir um importante fator de desenvolvimento do país. Como afirmava Fernando Pessoa, o maior poeta nacional do século XX: “O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo”.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Daniel Bastos evocou em Avintes legado dos emigrantes “brasileiros de torna-viagem”

No passado dia 1 de fevereiro (sábado), a Junta de Freguesia de Avintes, evocou o legado histórico e patrimonial dos emigrantes “brasileiros de torna-viagem” no final do séc. XIX, que tiveram um papel preponderante no desenvolvimento desta povoação do Município de Vila Nova de Gaia.
A iniciativa, no âmbito das comemorações do mês de Avintes, e que decorreu na Casa da Cultura Francisco Marques Rodrigues Júnior, abrangeu a inauguração da exposição “Brasileiros” de Avintes, onde se encontram patentes, até ao próximo mês de março, as figuras, os nomes e trajetórias de muitos avintenses e as marcas que estes deixaram no torrão natal, como sejam, as casas, escolas e associações que construíram e apoiaram. Assim como, uma palestra dedicada aos “Brasileiros de Torna-viagem”, proferida pelos historiadores José Vaz e Daniel Bastos, que se encheu de público e computou a presença do presidente da Junta de Freguesia de Avintes, Cipriano Castro, e da vereadora do Município de Vila Nova de Gaia, Célia Correia. No caso do escritor e diretor da coletânea “Cadernos da História d’Abientes”, José Vaz, o mesmo apontou que no séc. XIX a emigração levou muitos avintenses para o Brasil, sendo que os que fizeram fortuna e regressar foram a força transformadora da terra. Por seu lado, o historiador da diáspora, natural de Fafe, Daniel Bastos, destacou a transformação contemporânea no noroeste de Portugal, operada pelo empreendedorismo e benemerência dos “brasileiros de torna-viagem”. Como é o caso paradigmático do concelho de Fafe, cujas marcas identitárias do ciclo do retorno dos "brasileiros", impulsionaram a criação do Museu das Migrações e das Comunidades.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

José Carlos Teixeira: um paladino da comunidade portuguesa no Canadá

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico, político e associativo. Nos vários exemplos de difusão e promoção da cultura portuguesa na diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico no progresso e reconhecimento do país, tem-se destacado, ao longo dos últimos anos, o percurso notável de José Carlos Teixeira, professor de Geografia na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. Natural dos Açores, da ilha de São Miguel, freguesia da Ribeira Grande – Matriz, José Carlos Teixeira emigrou, como estudante estrangeiro, no ocaso dos anos 70 para Montreal, a maior cidade da província do Quebeque, no Canadá, onde vivem atualmente mais de 75 mil portugueses e lusodescendentes. A estadia em Montreal, facilitada pela presença de um tio paterno, pioneiro da emigração açoriana, possibilitou ao jovem ribeira-grandense frequentar um colégio para aprender a língua francesa. E posteriormente, no decurso da década de 1980, iniciar o bacharelato e, mais tarde, o mestrado em Geografia na Universidade do Quebeque, com uma tese intitulada “A mobilidade residencial intra-urbana dos portugueses em Montreal”. Em 1986, o cientista social açoriano, mudou-se para Toronto, onde vivia o grande suporte e companheira de vida, Maria Teixeira, e onde se concentram hodiernamente, a maioria dos mais de 500 mil portugueses e lusodescendentes presentes no Canadá. A estadia em Toronto, impulsionou a prossecução dos estudos de doutoramento na Universidade de York, com uma dissertação dedicada ao “Papel das Fontes Étnicas de Informação na Decisão de Deslocalização – O processo de tomada de decisão: Um estudo de caso dos portugueses em Mississauga”. Com uma carreira académica fulgurante, assente ainda num pós-doutoramento, também dedicado às áreas de residência das comunidades portuguesas como foco de estudo e de investigação, José Carlos Teixeira, lecionou na Universidade de York até 1996, sendo depois contratado pela Universidade de Toronto, onde foi docente durante cinco anos. Reconhecido especialista em geografias de migração, povoamento e urbanização no Canadá, o cientista social e docente, que em 2005 ingressou nos quadros da Universidade da Colúmbia Britânica, a instituição de ensino superior mais antiga da província da Colúmbia Britânica, onde é desde 2013 professor catedrático, tem colocado sempre as comunidades portuguesas disseminadas pelo território canadiano, no centro das suas investigações. Com mais de uma centena de publicações, a excelência académica do seu trabalho na nação canadiana, focado na estrutura e evolução das comunidades, na mobilidade para os subúrbios e no papel do comércio étnico dos portugueses, encontra-se espelhada, ao longo das últimas décadas, em inúmeras distinções. Entre outras, destaca-se o “Prémio de Investigação da Universidade da Columbia Britânica – Okanagan”, o “UBC Okanagan Provost’s Award for Public Education through Media Award” e pela Association of American Geographers, o “Ethnic Geography Distinguished Scholar Award”, ou o Prémio de Excelência Profissional do FPCBC. A sua constante e apaixonada dedicação na promoção da portugalidade, em geral, e da açorianidade, em particular, no Canadá, o segundo maior país do mundo em área total, concorreram decisivamente para que em 2005, tenha recebido durante uma cerimónia no campus universitário de Kelowna, das mãos do Cônsul de Portugal em Vancouver, a Ordem do Infante D. Henrique. Uma ordem honorífica portuguesa, que visa distinguir a prestação de serviços relevantes a Portugal, no país ou no estrangeiro, ou serviços na expansão da cultura portuguesa, da sua História e dos seus valores. Assim como, em 2023, ano em que decorreram as celebrações oficiais dos 70 anos da emigração portuguesa para o Canadá, tenha passado a figurar no “Portuguese Canadian Walk of Fame”, que anualmente laureia portugueses que se têm destacado no território canadiano. A sua profunda ligação e conhecimento identitário do torrão natal, estão igualmente na base da Insígnia Autonómica de Mérito Profissional, que lhe foi conferida, em 2009, pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Um símbólico reconhecimento público para com um ilustre filho do território arquipelágico, que ao longo dos anos, tem contribuído para a consolidação histórica e cultural da açorianidade no Canadá. Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa no Canadá, uma das mais relevantes comunidades lusas na América do Norte, que se destaca pela dinâmica da sua atividade associativa, económica e sociopolítica, o percurso de vida do professor catedrático e comendador José Carlos Teixeira, inspira-nos a máxima do filósofo José Ortega y Gasset: “A cultura é uma necessidade imprescindível de toda uma vida, é uma dimensão constitutiva da existência humana, como as mãos são um atributo do homem”.