Fafe, 23 mai
(Lusa) – O livro do historiador Daniel Bastos,
que assinala os 150 anos da Santa Casa da Misericórdia da Fafe (SCMF), destaca a importância dos emigrantes,
no Brasil, na criação e desenvolvimento, no século 19, daquela instituição de
solidariedade.
Naquele
trabalho de investigação, com quase 350 páginas, que vai ser apresentado na
sexta-feira, em Fafe, o historiador
explica, pormenorizadamente, como surgiu a SCMF, por iniciativa de comerciantes
fafenses radicados no Brasil.
Daniel
Bastos recorda que a ideia partiu de um médico fafense,
Miguel António Soares, que, por volta da década de 50 do século 19, confrontado
com as precárias condições de saúde da população local, pediu ajuda a um filho
abastado, emigrado no Brasil.
Naquela
época, residiam e trabalhavam no Rio de Janeiro dezenas de comerciantes
oriundos de Fafe. Foram esses que,
portadores de algumas fortunas pessoais, decidiram arranjar dinheiro para
construir um hospital em Fafe, igual
a outro que já existia naquela cidade brasileira.
Com os
donativos oriundos do Brasil, o hospital viria a ser inaugurado em março de
1863 com o propósito de assistir às populações mais pobres daquele concelho
minhoto. Um ano antes, para gerir o equipamento, constituiu-se, com as elites
locais, a irmandade da Santa Casa da Misericórdia.
O livro de Daniel Bastos, “Santa Casa da Misericórdia de Fafe – 150 anos ao serviço da comunidade”, apresenta
documentação que retrata aquele e os períodos subsequentes.
O
historiador explicou à Lusa que a pesquisa prolongou-se por cerca de ano e meio
e baseou-se no acervo da instituição, cujo estado de conservação e organização
elogiou. Disse também ter sido importante a consulta dos jornais da época que
iam relatando a história da instituição.
Ao longo
dos anos, até ao período em que o hospital foi nacionalizado pelo Estado
Português (1975), a SCMF viveu quase exclusivamente voltada para a gestão da
unidade de saúde, que estendera, entretanto, a sua influência à região de
Basto.
Daniel
Bastos disse que foram décadas de muitos progressos, mas
também de grandes dificuldades. Por três vezes (1944, 1955 e 1965), a
instituição recorreu a cortejos de oferendas, que envolveram toda a comunidade
local, permitindo recolher fundos que ajudaram na gestão do hospital e na
aquisição de equipamentos hospitalares.
Desses
momentos, o livro apresenta inúmeras fotografias, comprovando o empenho da
população local na procura de soluções para o seu hospital.
O último
dos três cortejos já foi promovido pelo então provedor cónego Leite Araújo que,
uma década depois, quando foi nacionalizado o hospital, viria a ser
determinante na refundação da instituição. Daniel
Bastos explicou que foi em 1975 que a SCMF, privada do seu
hospital, se voltou para outras necessidades sociais da época, como os idosos e
as crianças.
Poucos anos
depois, no início da década de 80 do século passado, foi inaugurado o primeiro
lar de idosos da instituição.
Desde
então, nunca mais a SCMF parou de crescer, sendo hoje uma das maiores
instituições sociais do Norte do país, com centenas de utentes, de vários
escalões etários, e mais de 200 funcionários.
APM.
Lusa/fim
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