Percecionada
tradicionalmente como um fenómeno de realização pessoal e profissional, em que
à custa de muito esforço, anos de sacrifício e trabalho árduo, os emigrantes alcançam o êxito lá fora, abundam igualmente na
história da emigração portuguesa casos e dimensões marcadas pelo
insucesso.
Para
lá dos vários casos de sucesso de self-made men espalhados pelos
quatro cantos do mundo, muitos deles de origens humildes e que a
partir do zero conseguiram triunfar na vida e construir verdadeiros impérios que
dão que falar no mundo dos negócios, avultam na emigração portuguesa situações de
compatriotas marcados pelas contrariedades do isolamento, das malhas da
pobreza, das barreiras linguísticas, do flagelo do desemprego e da
precariedade, que originam dificuldades em cumprir compromissos estabelecidos e
riscos de marginalidade.
Encontram-se,
por exemplo, nestes casos que geralmente não captam o interesse mediático da
sociedade, mas que mostram que a emigração não é só uma história de sucesso, o
fenómeno da deportação que tem trazido ao arquipélago dos Açores centenas de
cidadãos nacionais expulsos da América do Norte, essencialmente dos Estados
Unidos, devido a problemas com a justiça.
Segundo
um estudo recente do Centro de Estudos Sociais da Universidade dos Açores (CES-UA), nas últimas décadas os Estados Unidos da América e o
Canadá deportaram para os Açores 1.175 emigrantes portugueses, cuja maioria
emigraram ainda crianças com os pais à procura de uma vida melhor.
Constrangidos
a regressar uma terra, em que em muitos casos já não sabem falar a língua, nem
têm ligações, vários destes compatriotas vivem uma verdadeira dupla pena na região autónoma portuguesa no Oceano Atlântico. Uma espécie de prisão
a céu aberto, marcada pelo drama da separação forçada das famílias, prolongada pelo
facto de a deportação não ser temporária, mas definitiva,
Para
João Rodrigues, autor do ensaio “O
Repatriamento nos Açores: da emigração à reinserção”, este fenómeno crescente e
cada vez mais dramático “constitui uma forte sanção aos transgressores
imigrantes que violam as normas - exclui-os de um espaço polifacetado (físico,
social, emocional, económico), onde procuraram integrar-se e não conseguem, por
culpa própria e/ou de outrem”.
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