No início do mês de julho, fomos surpreendidos com a triste notícia do
falecimento, aos 84 anos, do antigo conselheiro das comunidades portuguesas,
José Batista de Matos, um dos rostos mais conhecidos da emigração lusa em
França, a maior
comunidade de portugueses
no estrangeiro.
Natural
do concelho da Batalha, Batista de Matos emigrou para França na década de 1960,
época em que a miséria rural, a ausência de liberdade e o deflagrar da Guerra
do Ultramar impeliram a saída legal ou clandestina de centenas de milhares de
portugueses em direção ao território gaulês.
Como
uma parte significativa dos emigrantes desse período o batalhense experienciou
as condições miseráveis do enorme bairro de lata “bidonville” de Champigny, nos
arredores de Paris, que nos anos 60 albergou mais de uma dezena de milhares de
portugueses, e se tornou um dos principais centros de distribuição de
trabalhadores de nacionalidade lusa em França.
Encarregado-geral
no metro de Paris onde trabalhou trinta anos e ajudou a construir mais de duas
dezenas de estações, e conhecido operário-ativista do maio de 68, Batista de
Matos cedeu vários documentos sobre a emigração portuguesa ao Museu da História
da Imigração, em Paris. Um espaço museológico que reconhece o contributo do
fenómeno migratório em França, e que tem na trajetória de vida de Batista de
Matos um exemplo paradigmático do relevante contributo da comunidade portuguesa
no desenvolvimento da pátria francesa.
Membro
fundador e dirigente da Associação Portuguesa de Fontenay-sous-Bois, comuna
francesa onde foi responsável pela inauguração do primeiro monumento ao 25 de
abril de 1974, fora de Portugal, Batista de Matos foi em 10 de junho de 2011
distinguido pelo Presidente da República, Cavaco Silva, com a Comenda da Ordem
de Mérito.
O
percurso de vida de Batista de Matos, autor do livro Uma vida de militância
cívica e cultural, constitui um rosto expressivo da emigração portuguesa dos
anos 60 para França, um ícone da primeira geração de emigrantes cujo trabalho e
sacrifício permitiu alcançar melhores condições de vida
e de dignidade que o país de origem lhes privava.
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