No decurso desta semana, fomos surpreendidos com a triste notícia do
falecimento, aos 92 anos,
do fotógrafo franco-haitiano Gérald
Bloncourt, um dos grandes nomes da fotografia humanista, e cujas amplamente
conhecidas imagens que imortalizam a história da emigração portuguesa para
França, representam um contributo incontornável na (re)construção da identidade
e memória coletiva nacional.
Radicado
em Paris há mais de meio século, o antigo fotojornalista e colaborador de
jornais de referência no campo social e sindical, teve o condão de retratar a
chegada das primeiras levas massivas de emigrantes portugueses para França nos
anos 60. A lente humanista do fotógrafo com dotes poéticos captou com particular
singularidade as duras condições de vida dos nossos compatriotas nos bairros de
lata nos arredores de Paris, conhecidos como bidonvilles, como os de
Saint-Denis ou Champigny, com condições de habitabilidade deploráveis, sem
eletricidade, sem saneamento nem água potável, construídos junto das obras de
construção civil.
Menos
conhecidas, mas nãos menos importantes, são as imagens que Gérald Bloncourt captou
durante a sua primeira viagem a Portugal nos anos 60, onde retratou o
quotidiano das cidades de Lisboa, Porto e Chaves. Assim como as da viagem a “s alto”
que fez com emigrantes além Pirenéus, e as das comemorações do 1.º de Maio de
1974 em Lisboa, que permanece ainda hoje como a maior manifestação popular da
história portuguesa.
O
trabalho fotográfico de Bloncourt sobre a emigração lusa constitui um valioso
repositório do último meio século português, que resgata das penumbras do
esquecimento os protagonistas anónimos da história portuguesa
que lutaram aquém e além-fronteiras pelo direito a uma vida melhor e à
liberdade.
O
trabalho e percurso de vida do fotógrafo francês de origem haitiana, que
durante mais de vinte anos escreveu com luz a vida dos portugueses em França e
Portugal, foram em 2016 distinguidos pelo Presidente da República Portuguesa,
Marcelo Rebelo de Sousa. No âmbito das Comemorações do 10 de Junho em Paris,
Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas, cujas comemorações oficiais nesse ano
aconteceram pela primeira vez numa cidade fora do país, o nonagenário fotógrafo
foi condecorado na cidade simbólica de Champigny, com a ordem
de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
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