Na antestreia em Portugal do filme “Silêncio”, do
multipremiado realizador americano Martin Scorsese, o Presidente da
República Portuguesa declarou publicamente que a película que adapta o romance
homónimo de Shusaku Endo sobre a pungente história do cristianismo no Japão
constitui “um elogio à diáspora portuguesa”.
Partilho
da ideia de Marcelo Rebelo de Sousa sobre este filme, que durante quase três
horas retrata um período marcante da história portuguesa, designadamente a
chegada dos portugueses, os primeiros europeus, ao Japão no século XVI, e as
perseguições religiosas que os padres jesuítas sofreram durante a sua missão no
território nipónico no decurso do século XVII. E subscrevo como o mais alto
magistrado da Nação que a obra cinematográfica evoca a “nossa vocação ecuménica
de estar em todo o mundo de formas diversas”.
No entanto, é de relembrar que a presença
portuguesa no isolado Japão dos séculos XVI e XVII tinha sido já, há duas
décadas atrás, refletida na obra cinematográfica “Os Olhos da Ásia”, do realizador João
Mário Grilo. A dimensão missionária e evangelizadora dessa presença, assim como
as ferozes perseguições movidas pelos xoguns aos missionários portugueses,
receosos de uma eventual invasão por parte dos “bárbaros do sul” e temerosos da
influência dos jesuítas nos nipónicos, encontram-se magistralmente vertidas no filme
estreado em 1997 do cineasta luso.
Uma
visão cinematográfica não invalida a outra, antes pelo contrário,
complementam-se e alargam horizontes, e todos os trabalhos de qualidade sobre a
história e cultura portuguesa são sempre bem-vindos. Mas não caiamos na
tentação de valorizar mais o que vem de fora, esquecendo o que
de bom se faz e realiza em Portugal, país que deu novos mundos ao Mundo, e que
no caso do Japão mudou por completo os hábitos, a língua, a cultura e a
história da “Terra do Sol Nascente”.
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