Um dos capítulos mais marcantes da
história da emigração portuguesa é seguramente o ciclo da emigração lusa para
França nos anos 60, derivado ao processo de reconstrução gaulês do pós-guerra. Que em
parte, foi suportado por um enorme contingente de mão-de-obra portuguesa pouco
qualificada, que encontrou nos setores da construção civil e de obras públicas
da região de Paris o seu principal sustento.
Num país estruturalmente condicionado
pelo regime autoritário e conservador que vigorou em Portugal entre 1933 e
1974, a miséria rural, a ausência de liberdade, a fuga ao serviço militar e a
procura de melhores condições de vida, impeliram entre 1954 e 1974, a saída
legal ou clandestina, de mais de um milhão de portugueses em direção ao
território francês
Essencialmente
masculino e oriundo das regiões rurais do norte e centro do país, o fluxo migratório em massa com destino à França, ficou desde
logo assinalado pela vida difícil dos portugueses nos “bidonvilles” dos
arredores de Paris. Enormes bairros de lata, com condições de habitalidade
deploráveis, sem eletricidade, sem saneamento nem água potável, construídos
junto das obras de construção civil, como os de Saint-Denis ou Champigny, que
na década de 60 albergou mais de uma dezena de milhares de portugueses,
tornando-se um dos principais centros de distribuição de trabalhadores de
nacionalidade lusa em França.
Embora os “bidonvilles” não tenham constituído a residência predominante dos
emigrantes lusitanos em território francês, como aponta o investigador em
Geografia Humana, Hélder Diogo, “menos de 20% dos
portugueses chegaram a viver nestes espaços”, a crise do
alojamento francês no pós-guerra, e o
projeto pessoal do emigrante de amealhar e poupar o máximo para regressar à
terra de origem com o sonho de construir uma casa, esta forma de habitação e
acolhimento marcou a primeira fase de chegada dos emigrantes portugueses
a França.
O
vislumbre dos tempos em que muitos portugueses viveram nos “bidonvilles”, constituiu
na atualidade um dever de memória e de homenagem aqueles que com sacrifício
alcançaram o direito a uma vida melhor, e um alerta à consciência das novas
gerações lusas que não se podem afastar do espirito de solidariedade entre os
povos e nações, porquanto essa é uma marca indelével da mundividência dos seus
antepassados.
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