Morgado de Fafe

O Morgado de Fafe, personagem literária consagrada na obra camiliana, demanda uma atitude proativa perante o mundo. A figura do rústico morgado minhoto marcada pela dignidade, honestidade, simplicidade e capacidade de trabalho, assume uma contemporaneidade premente. Nesse sentido este espaço na blogosfera pretende ser uma plataforma de promoção de valores, de conhecimento e de divulgação dos trabalhos, actividades e percurso do escritor, historiador e professor minhoto, natural de Fafe, Daniel Bastos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

As origens do republicanismo no concelho de Fafe

Postal antigo da vila de Fafe

As origens do republicanismo no concelho de Fafe remontam à figura multifacetada do João Crisóstomo (1864-1895). Jornalista com dotes poéticos, fundador dos Bombeiros Voluntários de Fafe e influente político monárquico local, João Crisóstomo, desiludido com o curso sociopolítico da região e da Nação, transitou em 1893 para o campo político republicano convertendo o jornal “O Desforço” num importante e primário veículo de divulgação da propaganda, dos ideais, dos “heróis” e “mártires” da causa republicana.
      Vítima de enfermidade fulminante, o jornalista e político faleceria aos 31 anos, tendo o seu amigo e correlegionário, Artur Pinto Bastos, “herói” da revolução de “31 de Janeiro de 1890”, prosseguido a partir de 1895 a demanda republicana através da direcção do jornal “O Desforço” e agregando-lhe o “Almanaque Ilustrado de Fafe”.
Vincadamente rural e com um profundo índice de analfabetismo, o concelho de Fafe encetava então na transição do séc. XIX para o séx. XX, um crescimento demográfico e urbano. Impulsionado pelos capitais dos emigrantes “brasileiros de torna-viagem”, o concelho manifestava através das casas apalaçadas, indústrias, asilos, escolas, misericórdia, jardim público e hospital, uma nova fisionomia socioeconómica que foi engrandecida no Verão de 1907 com a chegada do comboio.
A consciência deste “self mad man”, que se aprimorou em viagens pela Europa capitalista e culta, ao cruzar o Atlântico passou a participar na vida pública, mostrando disponibilidade e possibilitando aos seus descendentes meios para abraçar a “ideia de república”, que se disseminava no prelo do “Desforço” e do “Almanaque Ilustrado de Fafe”, mananciais profícuos dos trajectos sociais, económicos e políticos dos patrícios brasileiros.
O processo de retorno dos “brasileiros” de Fafe, marcados pela experiência politica republicana do Brasil que abolira o regime monárquico no final do séc. XIX, possibilitou a formação de uma base de apoio e influência robustecida por descendências e uniões matrimoniais, e promoveu um grupo pequeno mas coeso, ilustrado e financeiramente desafogado que abraçou o ideário de progresso e desenvolvimento republicano.
Este grupo republicano local corporalizou-se no início do séc. XX através da constituição de uma Comissão Municipal Republicana, que formada pelo médico Álvaro Vieira de Campos de Carvalho, o advogado José Summavielle Soares, o proprietário José Gabriel Peixoto de Magalhães e Menezes, o advogado Gervásio Domingues d’Andrade e o militar Miguel Alves Ferreira, assumiu a partir de 9 de Outubro de 1910 as rédeas do poder autárquico em Fafe após a implantação da República em Portugal.

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